Um diagnóstico elaborado pelo Instituto Pólis conclui que os efeitos da emergência climática não atingem todos da mesma forma. O estudo, realizado em São Paulo, Belém, Recife e Porto Alegre, mostra que a maior parte das áreas com risco de alagamento, deslizamentos ou doenças provocadas pela falta de saneamento é ocupada por moradores negros.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a diretora do Instituto, Cássia Caneca, explicou que a pesquisa buscou entender o papel das cidades na adaptação à crise climática. A leitura feita pelo Instituto é que a desigualdade racial se mistura aos impactos do clima. Nas palavras dela, “a vida de pessoas racializadas e empobrecidas nos territórios negros da cidade é muito mais difícil, e o avanço das políticas públicas, como o saneamento, muda diretamente essa realidade”.

Os dados levantados nas capitais analisadas mostram contrastes significativos. Em São Paulo, o acesso ao esgoto nas regiões periféricas fica em 77,2%, enquanto a média do município ultrapassa 91,7%. Em Belém, moradores negros têm probabilidade até 30 vezes maior de internação por doenças relacionadas à água contaminada, se comparados à população branca.
A capital pernambucana também revela disparidades: bairros ocupados majoritariamente por pessoas brancas exibem indicadores de saneamento, arborização e renda cerca de sete vezes superiores aos de comunidades negras e periféricas. E em Porto Alegre, 40,2% da população negra vive em áreas oficialmente classificadas como de risco.
Para Cássia Caneca, esses números traduzem a persistência de um desenho urbano que concentra investimentos nas regiões centrais e empurra populações periféricas para locais com infraestrutura precária. Ela resume esse padrão como um urbanismo “colonialista”. O relatório destaca ainda que mulheres negras chefes de família são um dos grupos mais impactados.
Como caminhos para reduzir o problema, o documento defende políticas interligadas, como urbanização de favelas, mais cobertura de saúde pública e moradias bem localizadas. Segundo a diretora, “pensar políticas interseccionadas e voltadas ao território é o que pode garantir uma vida minimamente sustentável diante dos efeitos da crise climática”.
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