A casa onde Sueli Carneiro, intelectual, ativista do movimento negro e feminista, viveu por 40 anos agora abriga um espaço de formação, pesquisa e memória do legado em movimento de sua produção intelectual. Durante esses 40 anos de história, o espaço foi palco de importantes encontros e trocas com grandes ativistas e pensadores, onde refletiu em experiências que marcaram diretamente o percurso do movimento de mulheres negras e o ativismo do movimento negro. Agora o espaço se tornará um ambiente formativo a partir de uma epistemologia e conexão com a ancestralidade negra.
O espaço virtual da Casa Sueli Carneiro foi inaugurado no último dia 18, onde em uma publicação os objetivos do projeto são descritos como: “Abrir as portas para abrigar institucionalmente variadas expressões de ativismo e intelectualidade negra é o objetivo da Casa Sueli Carneiro. Assim como organizar, digitalizar e tornar acessíveis documentos, fotografias, recortes de jornal e atas de reuniões para pesquisadoras e pessoas interessadas na nossa história.”
A jornalista e diretora da Casa Sueli Carneiro, Bianca Santana, em entrevista para o portal Geledés, ressalta os encontros que a casa já foi palco e as experiências que o espaço vai proporcionar para essa nova geração de ativistas e intelectuais negros: “A Casa Sueli Carneiro integra produção, ativismo, pensamento negro, reflexões e expressões negras, ampliando a visibilidade e a abrangência do pensamento ativista-intelectual negro no Brasil e suas interfaces no âmbito nacional e internacional”.
A atuação de Sueli Carneiro nos movimentos sociais e na academia é um grande marco referencial para diversas gerações. Seu conceito de Epistemicídio é de extrema relevância para olhar as relações raciais no Brasil, principalmente dentro da produção das ciências. Enquanto mulher negra e feminista foi uma das resposáveis a incitar o olhar para as relações de gênero com recorte de raça, como destaca em seu texto Mulheres em Movimento, que demarca a luta das mulheres negras no Brasil.
Seu legado direcionou e continua direcionando a produção acadêmica a olhar as relações de gênero, raça, classe e desigualdades, ressaltando como essa hierarquia é latente em todos os espaços da sociedade brasileira. Seu legado e atuação política inspira diariamente homens e mulheres a se articularem com as pautas antirracistas e feministas nas ruas, na internet e nas universidades.