Relator da ONU pede que Brasil evite revitimização de Sônia Maria de Jesus

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O relator especial da ONU sobre escravidão contemporânea, Tomoya Obokata, fez duras críticas ao Brasil após conhecer o caso de Sônia Maria de Jesus, de 50 anos. Ele disse estar “alarmado” com a decisão judicial que manteve a trabalhadora na casa do desembargador Jorge Luiz de Borba e de sua esposa, Ana Cristina Gayotto de Borba, em Florianópolis.

Obokata esteve no país entre 18 e 29 de agosto de 2025. A missão oficial avaliou como o Brasil vem lidando com situações de trabalho análogo à escravidão. Durante a viagem, o relator conversou com familiares de Sônia e recomendou ao governo a criação de garantias para vítimas de exploração, defendendo reparação, dignidade e proteção contra novas violações.

O caso também foi discutido no XIII Congresso Nacional das Trabalhadoras Domésticas, conhecido como “Sônia Livre”. A FENATRAD, que representa a categoria, cobrou atenção do relator e divulgou nota afirmando que a lentidão da Justiça “favorece um sentimento de impunidade” e perpetua violações já registradas pelo Ministério do Trabalho.

O relator especial da ONU sobre escravidão contemporânea, Tomoya Obokata, fez duras críticas ao Brasil após conhecer o caso de Sônia Maria de Jesus – Foto: Divulgação.

A história de Sônia revela décadas de servidão: sem salário, sem registro em carteira e sem acesso à escola. Retirada da mãe aos nove anos, cresceu isolada, com deficiência auditiva e visão parcial. Apenas na vida adulta conseguiu documentos pessoais. Em 2023, uma operação do Ministério Público Federal a resgatou, mas meses depois o STJ determinou seu retorno ao mesmo lar, decisão confirmada pelo Supremo.

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, criticou o episódio: “Temos no Brasil o primeiro caso de desresgate de uma trabalhadora que foi enviada de volta para o ambiente de exploração.”

Mesmo após a inclusão de Ana Cristina Borba na chamada “Lista Suja” do trabalho escravo, Sônia continua sob a tutela da família. Casos semelhantes são recorrentes: entre 2017 e 2023, o Ministério do Trabalho registrou 119 resgates em residências particulares.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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