Estudo inédito sobre acne em homens trans negros vence prêmio de inclusão científica

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Pesquisa premiada estuda como a testosterona afeta a pele de homens trans negros e propõe tratamentos para acne severa e manchas na pele.\ - Foto: Pexels

Durante o Mês do Orgulho LGBTQIAPN+, uma pesquisa brasileira inédita lança luz sobre um tema pouco explorado: os impactos da hormonização na saúde da pele de homens trans negros. O estudo, liderado pela endocrinologista baiana e professora da UFBA Luciana Mattos Barros Oliveira, foi um dos vencedores do Prêmio Dermatologia + Inclusiva, promovido pela Divisão Beleza Dermatológica do Grupo L’Oréal no Brasil.

A pesquisa busca compreender como a testosterona, hormônio utilizado no processo de afirmação de gênero, afeta diretamente a pele, especialmente de pessoas negras, que apresentam maior propensão a desenvolver acne severa, manchas e cicatrizes.

A dermatologia precisa olhar para esses corpos de forma mais específica. A pele preta é diferente, a pele em transição hormonal é diferente. Se a ciência ignora isso, ela está ignorando vidas”, afirma a Dra. Luciana.

Pesquisa premiada estuda como a testosterona afeta a pele de homens trans negros e propõe tratamentos para acne severa e manchas na pele – Foto: Pexels

O estudo contará com a participação de até 50 homens trans baianos em fase inicial de hormonização. Eles passarão por testes com duas substâncias tópicas, com o objetivo de avaliar a eficácia no controle da acne e na prevenção de hiperpigmentações. A pesquisa recebeu uma bolsa de R$ 50 mil para seu desenvolvimento.

Segundo a médica, a proposta vai além da estética: trata-se de uma questão de saúde pública. Até 85% dos homens trans relatam quadros graves de acne no primeiro ano de tratamento hormonal.

“A acne severa pode causar dor, afetar a autoestima e gerar ainda mais sofrimento em uma população já vulnerável ao preconceito e à invisibilidade”, reforça.

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Desigualdade estrutural no acesso à saúde

O estudo também surge como resposta à escassez de dados e à negligência histórica da saúde integral de pessoas trans, especialmente negras. Dados do Fundo de População da ONU (UNFPA) revelam que homens trans negros concentram 56% das ocorrências de violência entre pessoas trans no Brasil. Além da violência, enfrentam baixa expectativa de vida, acesso precário à saúde e altos índices de exclusão social.

Um relatório do FONATRANS intitulado Travestilidades Negras detalha as desigualdades enfrentadas por essa população em áreas como educação, emprego e acesso à saúde, reforçando a urgência de ações afirmativas.

O reconhecimento da pesquisa pelo Grupo L’Oréal marca um avanço simbólico e prático. A empresa afirma que a transformação da ciência passa também por dentro: 16,4% de seus colaboradores no Brasil se autodeclaram LGBTQIAPN+, e 92% afirmam se sentir seguros no ambiente de trabalho, segundo o censo interno de 2023.

Mais do que uma premiação, o estudo liderado por Luciana Oliveira representa um passo importante rumo à equidade científica, ao colocar corpos historicamente marginalizados no centro da produção de conhecimento e da prática clínica.

“Não estamos falando apenas de estética. Estamos falando de saúde, dignidade e pertencimento”, conclui a endocrinologista.

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