A Polícia Civil de Minas Gerais investiga o caso da mineira Sara Policarpo, de 25 anos, que, ao tentar fazer a segunda via de seu documento de identidade, foi informada que seu cabelo afro era inadequado ao padrão exigido para esse tipo de foto 3×4.
Na última sexta (20), data em que celebramos a Consciência Negra, Sara foi ao posto da Unidade de Atendiment Integrado (UAI), em Divinópolis, fazer um novo documento de identidade para ela e a primeira via da filha. Como tinha tirado uma foto 3×4, pediu para imprimir e levou ao local, mas a foto não foi aceita, porque não estava respeitando os pontos de distância corretamente. A atendente do UAI explicou a ela como a foto deveria ser batida e remarcou o horário do atendimento. Sara, então, se deslocou até uma loja do outro lado da rua, para tirar outra foto nos parâmetros que a Polícia Civil estipula.
Chegando ao local, já tinha uma cliente aguardando o fotografo terminar de editar sua foto. Sara conta que a mãe da criança relatou que teve que voltar na loja para fazer outra foto, porque no UAI não aceitaram a foto da filha. A mãe então disse que teve que esconder o cabelo da filha.
Indignada ao saber do que a cliente anterior tinha passado, Sara observou se o fotografo pediria para ela amarrar também o cabelo da filha, que tem o tom de pele claro e o cabelo cacheado, mas isso não aconteceu. “Quando foi a minha vez, eu ia sentar, ele disse que eu poderia ir no banheiro, porque eu estava brilhando e que era para eu aproveitar e abaixar um pouco o cabelo, porque ele não ia poder aparecer assim na foto”, comenta.
Sara falou para o fotografo que não tinha problema o seu cabelo aparecer na foto, mas ele insistiu que não poderia, porque, segundo ele, os atendentes do UAI não gostam que o cabelo apareça dessa forma na foto. “Eu não posso ficar perdendo o meu tempo e você gastando dinheiro”, disse o fotógrafo.
Chateada com a situação, Sara foi ao banheiro lavou o rosto desmanchou o afro puff e amarrou o cabelo mais baixo, mesmo assim ele não aceitou, disse que teria que cortar o cabelo. “Ele disse que teria que cortar o meu cabelo, porque não pode ser assim, falou que no Uai não iam aceitar a foto com o meu cabelo assim. Que ele bateria a foto e teria que editar”, relata. O fotografo então removeu todo o cabelo da cliente no photoshop e disse que se quisesse teria que ser daquela forma. “Não aceitei, não pagaria por aquela foto de jeito nenhum”, disse. Depois desse constrangimento, Sara desistiu de fazer a segunda via da identidade por não poder tirar foto da forma que gostaria.
Ao Notícia Preta, Sara disse que vai conseguir fazer a identidade com o cabelo do jeito que ela é. “Fiz o boletim de ocorrência e conversei com o delegado, que conseguiu marcar no Sine de Itaúna, para eu fazer a identidade do jeito que eu nasci, do jeito que eu vim ao mundo, do jeito que o meu cabelo é”, desabafou.
“Isso tem que parar, porque saímos de casa e chega no final do dia você se depara com uma situação dessa que vai ser desconfortável pelo resto da vida. A gente tem que expor situações como essa. Se o fotografo estava convencido que o UAI não aceitaria a gente dessa forma, ele deveria ser contra o UAI, deveria ficar do nosso lado para combater o racismo”, diz Sara.
Em nota a Polícia Civil de Minas Gerais esclarece que, a Unidade de Atendimento Integrado (UAI) em Divinópolis recebeu as solicitações de confecção de documento de identidade das duas denunciantes, na última sexta-feira (20/11), contudo, ambas fotografias estavam em desacordo com as recomendações da portaria. Ressalta, ainda, que o cabelo ou penteado não interferem na confecção do documento.
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