RJ: favelas concentram maior parte das casas em risco de enchentes e deslizamento na capital

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Estudo mapeia principais favelas com o maior risco de vulnerabilidade com eventos climáticos extremos

“Bomba climática”. Essa foi a definição da cidade do Rio de Janeiro no estudo Índice de Vulnerabilidade e Chuvas Extremas na cidade do Rio de Janeiro (IVCE-RJ). Segundo os dados, 21% dos domicílios particulares em toda a cidade estão em alta vulnerabilidade para deslizamentos e inundações, significando 599 mil moradias. Enquanto, 142 mil estão em vulnerabilidade muito alta. Mas a maior parte delas está concentrada nas favelas da capital fluminense.

A área que concentra o maior risco de deslizamento está no complexo de favelas Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, localizados na zona sul da capital carioca. São 3 mil moradias, significando (62%) em área de alta vulnerabilidade e 899 em muita alta, segundo o índice.

Já na Rocinha, também na zona sul, cerca de 11 mil domicílios (45%) estão em alta para deslizamento e 1,4 mil se encontram no nível de muito alta. Enquanto, a região da Mangueira, na zona norte, registra 23% em alta vulnerabilidade, sendo mais de 1,6 mil residências e 765 encontram-se no índice de muito alta vulnerabilidade para deslizamento. 

Chuva forte provocou alagamentos e um deslizamento de terra na Rocinha, na zona sul do Rio /Foto: Prefeitura do Rio de Janeiro

Muitas moradias do Rio de Janeiro estão em morros e maciços rochosos, que acabam sendo locais vulneráveis e mais afetados com as mudanças climáticas e eventos de chuva extrema. De acordo com o Serviço Geológico Brasileiro (SGB), 18% do município está em área com algum risco de deslizamento. 

Os dados revelam que 70 mil moradias estão em áreas de alta vulnerabilidade para deslizamentos e 10 mil registram o nível de muito alta vulnerabilidade. 

“É o pior cenário possível, principalmente para deslizamento, porque o solo, quando não chove muito, fica compacto e seco; e, quando dá um pancadão de chuva, leva o terreno embora, como um bolo que esfarela”, afirmou o urbanista climático Pedro Henrique de Cristo para o estudo. 

Como forma de minimizar o risco de deslizamentos, a prefeitura implementou em 2011, o programa Sirenes Cariocas, que nada mais é que um sistema de alertas que soam quando os índices pluviométricos acusam a necessidade de uma desocupação preventiva. A ação ocorreu após as chuvas de 2010, que deixaram 230 mortos no estado e 35 no município. 

Foram instaladas 168 sirenes em cerca de cem comunidades vulneráveis a deslizamentos e 164 continuam ativas. A última instalação ocorreu em 2012. Segundo relatório do Tribunal de Contas do Município TCM-RJ, as sirenes cobrem apenas um terço das áreas de risco climático na cidade, deixando cerca de 400 comunidades de fora. 

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A pesquisa destaca que a geografia do Rio de Janeiro é marcada por três imensos maciços rochosos, que atingem até 1 mil metros de altitudes, sendo no alto deles que nasce cerca de 267 rios que correm pela cidade. Quando chove, o processo natural é que os rios enchem e transbordam e, quando as águas não são drenadas de maneira eficaz, causam inundações e alagamentos em regiões de baixada. Segundo o SBG, 24% do município está sob risco alto ou médio de inundação.

Pelo menos 532 mil domicílios estão em alta vulnerabilidade a inundações em toda a cidade e 132 mil estão no nível de vulnerabilidade muito alta. 

Favelas como Acari, Pavuna e Irajá, têm 31,3 mil residências (34%)  ao total, que também estão em alta vulnerabilidade para inundações e 7,5 mil em muito alta, segundo o estudo. As chuvas de janeiro de 2024, fizeram os rios transbordarem, provocando a morte de quatro pessoas e danificando 20 mil moradias. Mais de 12 mil pessoas tiveram que deixar suas casas em todo o estado carioca. 

De acordo com o estudo, uma das áreas mais sujeitas a inundações no Rio é no Complexo Lagunar de Jacarepaguá, que também é uma das regiões que mais cresceu popularmente  nos últimos 50 anos, tornando-se subdistrito com 653 mil habitantes. Quando chove, a água não tem como infiltrar, então acontece os alagamentos. 

“Quando se canaliza um rio e se ocupa suas margens, especialmente as planícies de inundação, com a urbanização e a impermeabilização do solo, o rio perde esses espaços de liberdade. Com suas margens impermeabilizadas, a água não consegue infiltrar no solo, resultando em extravasamento e inundações nas áreas ao redor”, destacou Adão Cândido, pesquisador Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

O estudo completo, assim como as análises dos especialistas podem ser acessados através do Projeto Rio 60º – Como a Cidade se Prepara para os Eventos Climáticos Extremos

Nathalia Ferreira

Nathalia Ferreira

Jornalista com pós-graduação em Social Media e MBA em Digital Business. É estratégista de comunicação digital e social intelligence, atuou em análise de dados, geração de insight e já liderou a comunicação corporativa em consultoria étnico-racial. Nathalia tem como propósito contribuir com uma comunicação antirracista e alavancar ações efetivas e de impacto social através da comunicação.

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