Na semana passada, todos os roteiristas da série de ficção sobre Marielle Franco pediram demissão, conforme noticiado na coluna do jornalista Ancelmo Gois, no jornal O Globo, e confirmado pelo Notícia Preta. Foi montada uma equipe só com profissionais negros, a maioria, mulheres. O grupo estava trabalhando desde abril na produção prevista para ir ao ar em 2021. A demissão coletiva “foi por divergências na condução da narrativa sobre a vida da vereadora”, segundo a nota.
Desde quando foi anunciado o lançamento da série de ficção sobre Marielle Franco, em março deste ano, a obra recebe mais críticas negativas do que elogios. A começar pelo fato do projeto, que tem coprodução da Globoplay, ter sido idealizado por Antônia Pellegrino, dirigido por José Padilha e supervisionado por George Moura, todos brancos.
A composição desta equipe de roteiristas negros foi resultado de muita pressão nas redes sociais e questionamento sobre porque os três principais envolvidos na série, que conta a história de uma mulher negra, feminista, e que sempre militou por políticas de inclusão racial e social, serem brancos. A formação do trio foi interpretada por muito como um exemplo ‘claro’ da prática do “tokenismo“, ou seja, uma ação apenas simbólica destinada a responder à crítica de falta de diversidade racial e inclusão na produção.
As críticas para a escolha de Padilha começam pelo fato dele ter demonstrado ao longo de sua carreira ser uma pessoa de direita. Esta perspectiva se intensificou com a realização para a Netflix da série “O Mecanismo” (2018), que glorifica a operação Lava Jato e o então juiz Sérgio Moro. Tentando justificar as criticas recebidas, Padilha publicou um artigo na Folha de São Paulo, em março deste ano, onde cita o assassinato Malcom X como exemplo para dizer que inimigo do negro ‘não era o homem branco, era o ódio’. Com esse texto ele só piorou o que já estava ruim pra ele.
Para tentar ‘justificar’ a escolha de José Padilha na direção de série, Antonia Pellegrino ousou dizer que falta de cineastas negros na produção brasileira. A idealizadora, que é mulher do deputado federal Marcelo Freixo (Psol), declarou ter conversado com muita gente no mercado e que até pensou em ter um diretor negro, mas não achou alguém com as características que procurava. ‘Se tivesse um Spike Lee, uma Ava DuVernay…” . Após ser criticada por sua fala racista Antônia pediu desculpas.
Sobre o pedido de demissão dos roteirista a TV Globo emitiu nota informando que “Na semana retrasada (e não na passada) quatro roteiristas (e não cinco) comunicaram individualmente seu interesse em deixar o projeto. A empresa, como sempre faz, respeitou a vontade dos artistas e concordou com a saída, mantendo em vigor todos os contratos (eles não foram demitidos nem pediram demissão). Os autores em questão seguem desenvolvendo outros projetos. Os produtores executivos Antonia Pellegrino e José Padilha e o diretor Jeferson De seguem à frente do projeto, que em breve será reforçado por novos talentos. Os quatro roteiristas serão substituídos seguindo os mesmos critérios de talento e diversidade que orientam essa obra e todas as produções e coproduções do Globoplay e dos Estúdios Globo.”