Brasileiros que vivem na Alemanha criticaram a retratação usada no livro em que criança procurava restos de comida no lixo e não ia à escola
Diante da grande repercussão e mobilização nas redes sociais sobre o livro didático alemão que associa o Brasil a estereótipos, a editora Mildenberger alterou o conteúdo na versão disponível no site. O livro ‘ABC der Tiere’ mostrava uma criança brasileira do Rio de Janeiro, que não frequentava a escola, procurava comida no lixo e desejava se tornar jogador profissional. Já na nova versão, Marco, o garoto fictício do livro, gosta de esportes e segue querendo ser jogador de futebol.
Antes da revisão da editora, em outras versões online, o conteúdo dizia que a criança brasileira limpa para-brisas de carro, fala “Buenos dias”, apesar do idioma falado no Brasil ser o português, e não o espanhol, e além disso, a criança também diz que sonha em se tornar um jogador como o Messi.
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Na lição em questão do livro, há crianças de outras nacionalidades. Uma garota alemã que gosta de tocar violão, depois da aula e quer ser educadora. Um queniano que tem pai cozinheiro e que o ajuda depois das aulas, além de querer seguir a mesma profissão quando crescer. Já a garota japonesa passa o dia todo estudando, para ser a melhor aluna e conseguir se tornar uma advogada.
Na nova versão da editora, a criança alemã e a japonesa seguem com o mesmo discurso, e apenas as falas dos meninos que vivem no Brasil e do Quênia sofreram alterações. O queniano não ajuda mais o seu pai depois da escola, e come com toda a família.
Veja aqui a nova versão online do livro.
Impacto nas crianças brasileiras que vivem na Alemanha
As crianças da escola pública de Berlim, capital alemã, ficaram espantadas com a primeira versão do livro. O aluno brasileiro de 11 anos não soube reagir à situação, mas gostaria de ter dito que essa não era a melhor forma de apresentar o seu país, segundo os responsáveis.
“Ele chegou em casa e contou que não tinha vocabulário para explicar para eles que isso não é o Brasil, ou que o país não é só isso”, ressalta Renato Galisteu, pai do aluno. A família se mudou de São Paulo para Berlim há três anos, sendo assim, o idioma alemão ainda é um desafio na rotina da família.
A mãe do aluno brasileiro compartilhou a imagem do trecho do livro em um grupo de WhatsApp de mães brasileiras em Berlim. De forma rápida houve uma mobilização para que a embaixada brasileira e a editora do livro tomassem ações efetivas. A Embaixada do Brasil em Berlim publicou uma nota de repúdio à propagação na última quinta-feira (13), afirmando que é uma “imagem distorcida e preconceituosa” sobre as crianças do Rio de Janeiro e do Brasil.
A embaixada ressaltou que entrará em contato com a editora e autoridades alemãs, para que possíveis providências sejam tomadas. “A Embaixada do Brasil em Berlim lamenta a abordagem insensível e pouco informada da editora Mildenberger no livro em questão. Para além da dificuldade em entender como um texto dessa natureza possa ter a pretensão de ser didático, preocupa o impacto em crianças de sua exposição a estereótipos e preconceitos sobre outros países”.
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Além disso, a embaixada incluiu no comunicado que a taxa de escolarização de crianças de 6 a 14 anos no Brasil é de 99,4%, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2023.
Em nota divulgada nas redes sociais, a editora Mildenberger afirma “Gostaríamos de pedir sinceras desculpas à comunidade brasileira e a todos os leitores afetados. Estamos a receber este feedback e vamos rever o manual. Nós ajustamos imediatamente a página e disponibilizamos a nova versão para download com o artigo na loja web“.