“Eu fiquei constrangida com a situação, porque eu anunciei ali para ter uma renda complementar para morar com meu namorado”. Essa declaração é de Fabricia Lima, de 21 anos, moradora do Rio de Janeiro, que no dia 11 de fevereiro entrou na OLX para divulgar o seu trabalho como faxineira e acabou recebendo propostas para fazer programas.
“Eu já divulgava o meu trabalho nas minhas redes sociais, mas uma pessoa me indicou usar também a plataforma OLX e eu resolvi testar. Fiz um anúncio sem foto, apenas com as informações sobre o meu trabalho e meu telefone de contato. Logo em seguida, eu recebi duas propostas. Depois que eu entendi o que estava acontecendo, retirei o anúncio do ar. Mas como gerou visualizações, outros homens me procuraram no dia seguinte”, conta Fabricia, que começou a fazer faxina há um ano.
A estudante de Técnicas de enfermagem, que é negra, comenta que procura trabalho extra para poder morar com o namorado e criar o filho. Ela acredita que a cor da pele “facilita” esse tipo de abordagem:
“Mesmo eu não colocando a foto, eles viam quando me adicionava. Tanto que um deles me falou que eu era bonita demais para fazer limpeza. O fato de ser negra faz com que eles achem ser mais fácil eu aceitar esse tipo de proposta. Acredito que a cor da pele interfira nesse tipo de julgamento”.
Apesar de não ter feito nada de errado, a cultura machista na qual vivemos faz com que o sentimento de constrangimento se manifeste no agredido e não no agressor.
“Alguns tinham foto com a família no status do WhatsApp com a frase ‘eu amo a minha família’. Eu senti uma grande falta de respeito, fui tratada como um corpo apenas. Acham que por fazer faxina eu estou precisando de dinheiro e que vou aceitar qualquer proposta. E eles foram muito diretos. Resolvi colocar na internet justamente porque me senti indignada”, desabafa Fabricia.
A grande repercussão do post no Twitter, que até a publicação desta matéria tem mais de 21 mil curtidas e mais de cinco mil retweets, fez ela ganhar 700 seguidores e ser abraçada por uma rede de afeto.
“Confesso que num primeiro momento, eu me arrependi de ter exposto a situação, mas por outro lado eu tive acolhimento nos comentários, tanto nos posts como no privado. Foi bom ter esse carinho, mesmo de pessoas do sexo masculino”, diz a técnica de enfermagem, que percebeu que após as publicações os homens a bloquearam no WhatsApp.