Aguidavi do Jêje indicado ao Grammy Latino 2024: “Meus meninos, nasceram de dentro do terreiro”, diz Luizinho

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Nesta terça-feira (17), após o anuncio de que A Orquestra Afro Percussiva Aguidavi do Jêje está concorrendo ao Grammy Latino 2024, o Notícia Preta realizou uma entrevista exclusiva com o grande músico e idealizador do projeto Luizinho do Jêje. O disco que tem participação de Gilberto Gil concorre na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”.

A semente que plantou em 2004 no terreiro Zoogodô Bogum Malê Hundó deu frutos, mais do que se imaginava, segundo Luizinho, 16 meninos tocam no disco, entre eles está seu filho, Kainã do Jêje que toca bateria.

“Eles vivem muito no terreiro, desde pequeno e sempre tocaram, sempre com a facilidade de tocar os instrumentos. O atabaque né, já da raiz, a coisa da religião, do candomblé, e eu fui dizendo a eles: ‘vocês tem que tocar outro instrumento, vamos tocar aqui, vamos por aqui ó'”, contou.

Luizinho que já era músico desde então foi apresentando os outros instrumentos aos meninos, que foram surpreendendo com a variedade e aprendendo mais a cada ensaio no quintal. E o que era sonho foi crescendo.

“Nisso, um já tava estudando violão, as levadas e tudo. Aí eu disse: ‘pô podíamos fazer um projeto com esses meninos’, então a gente começou a fazer a música que já tinha com a levada e com muito ritmo e aí eles cresceram e todos viraram profissionais tocando com vários artistas e é muito emocionante ver esses meninos da comunidade tendo a direção para um caminho e para a música”, disse ele emocionado.

Primeira turma do Aguidavi do Jêje em 2004 – Foto: Divulgação.

Pouco tempo atrás o projeto conseguiu ter uma turma que durou 4 meses através de um edital, teve novos alunos na comunidade e segundo o mestre a escola pode voltar em março. A intenção é que tenha outras aulas além de percussão, como balé, ritmos. “Crianças de cinco anos, seis anos, sete anos indo para a aula e feliz, né? E eles sempre vão lá no terreiro perguntar quando volta, né?”.

Luizinho recebeu a notícia com muita alegria, ainda mais por lembrar dos tempos em que o candomblé foi perseguido. “A religião do candomblé foi muito massacrada, muito perseguida, e hoje a gente chega num lugar com esse disco, assim, muito importante, né, até para fortalecer a religião da matriz africana, que ainda sofre ainda, a gente tem a discriminação ainda, pela religião, pela nossa cultura”, disse.

O disco foi gravado no terreiro de Luizinho, a gravadora que é do Rio de Janeiro levou os equipamentos até o Engenho Velho da Federação, local onde fica o Zoogodô Bogum Malê Hundó. Segundo Luizinho as composições, os arranjos e cada detalhe nasceram ali dentro daquele barracão.

Homenagem a Ogum

“A ligação com Ogum é muito grande, porque eu sou de Ogum, eu cresci dentro do terreiro, desde meus quatro anos de idade que eu vivo dentro do terreiro com minha mãe. Cantar esse cântico, que é um cântico da religião, para abrir mesmo os caminhos e ver as pessoas dizerem que o candomblé não é bruxaria, não é feitiçaria, mas é festa, é alegria, é fartura de tudo, de comida, de bebida, de tudo”, explica.

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Thayan Mina

Thayan Mina

Thayan Mina, graduando em jornalismo pela UERJ, é músico e sambista.

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