21% dos professores brancos não sabem o que fazer em casos de racismo em sala de aula, diz pesquisa

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Uma pesquisa inédita feita pelo Observatório Fundação Itaú, em parceria com a Equidade.Info, aborda um retrato sobre o clima escolar, as práticas de racismo e dos conflitos nos estabelecimentos de ensino das redes pública e privada no Brasil. Os dados mostram que 21% dos professores brancos não sabem o que fazer em casos de racismo em sala de aula.

Entre os professores negros, a porcentagem é de 9%. Durante esse estudo, analisaram-se dois dois temas: Clima Escolar, do qual participaram 144 escolas, 2.706 alunos, 384 docentes e 235 gestores ouvidos entre março e abril deste ano; e Enfrentamento ao Racismo, com dados colhidos entre abril e maio de 2024 com 160 escolas, 2.889 alunos, 373 docentes e 222 gestores.

Ao abordar temas como indisciplina e agressividade, 50% dos alunos percebem situações de indisciplina em suas escolas, enquanto só 36% dos professores têm a mesma percepção / Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Dentre os destaques dentro dessa pesquisa, o fato dos alunos acharem que o acolhimento diminui de acordo com o avanço das etapas de ensino é preocupante; 86% de índice positivo nos anos iniciais do Ensino Fundamental e 71% no Ensino Médio. Os alunos negros se sentem menos acolhidos que os brancos, média de 78% entre negros e 84% brancos, no acolhimento. Entre os professores e gestores, quando perguntados sobre o quão os alunos se sentem acolhidos, são de 92 3 93% respectivamente.

Segundo Lavini Castro, educadora antirracista, mestre em Relações Étnico Raciais, ao provocar a sensibilização de um olhar diferenciado para as crianças e juventude negras, é possível maior engajamento para a promoção de espaço de conscientização e construção de identidades. Além disso, é fomentado o entendimento da importância do compromisso antirracista para muito além do professor, mas de toda a comunidade escolar.

Ela aproveita para ressaltar também que ao promover uma educação antirracista, é desconstruído estereótipos raciais; acontece uma valorização da diversidade e faz compreender a história do Brasil; além de também promover a inclusão. Ao iniciar uma educação antirracista desde o princípio da vida, o mundo fica mais igualitário e inclusivo para todos.

Precisamos voltar nossa atenção para o aprendizado sobre como ter um olhar sensível para nossos alunos negros. Para não deixarmos passar aquelas situações de tensão provocada pelas relações raciais bem como para nos ferramentarmos com conceitos e argumentos que nos deem segurança no agir da educação antirracista“, explica a professora.

Enfrentamento ao Racismo

O recorte conduzido pela Fundação Itaú e Equidade.Info, indica que 70% dos estudantes que os alunos negros são respeitados nas escolas em relação à sua aparência. Essa percepção, porém, é diferente entre alunos brancos e negros: entre os primeiros, 8% discordam do anunciado, enquanto para os negros, a porcentagem é de 13%.

Entre os professores, 54% reconhecem a existência de situações de racismo entre os estudantes. Entre os professores, estes sentem que no Ensino Fundamental II, a porcentagem sobe para 67%. Há discrepância, também, nas diferenças entre professores brancos (48%) e negros (56%).
Dentro da pesquisa, 56% dos professores dizem também que em sala de aula ou na escola, há situações de racismo entre os estudantes.

Segundo o advogado Fabiano de Jesus Ferreira, especializado em direito educacional, a forma de mudar a realidade, principalmente com relação a falta de habilidade de professores brancos de lidar com questões racistas, é a capacitação continuada desses profissionais, inclusive sob o viés jurídico.

Eles podem ser implicados criminalmente por omissão, diante dessas práticas [racistas] quando elas ocorrem dentro do ambiente escolar ou dentro da sala de aula. A falta de familiaridade deles com essas situações também contribui para o aumento desses casos [de racismo]“, explica o profissional.

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