Silvio de Almeida: a vendeta contra o racismo

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Por Jorge Santana, Historiador, Doutorando em Ciências Sociais ( UERJ) @jorgesantana_sg

Na noite de segunda-feira o Brasil passou a conhecer o grande Silvio de Almeida. Nós, homens e mulheres de tez escura, já o conhecemos há anos. Mas boa parte dos brancos não o conheciam. Teve que acontecer o programa Roda Viva para que ele fosse nacionalmente conhecido. Silvio é  doutor em direito, professor universitário e filósofo. Foi brilhante ao abordar o racismo no Brasil no mais importante programa de entrevistas do País.

Barbosinha, pai de Silvio de Almeida. Foto: Terceiro Tempo

O que muitos não sabem é  que Silvio é  filho de um grande goleiro apagado pela história e pelo racismo. O futebol é  um esporte machista e racista, na poderia diferente da sociedade é  apenas uma reprodução. O velho esporte  bretão é feito de heróis e vilões assim como os romances. O que há de surpresa é que no Brasil é comum que os vilões sejam  jogadores negros, os quais são tidos como não confiáveis ou mesmo incapazes de exercer algumas posições do desporto.

O pai de Silvio é o ex-goleiro Barbosinha do Corinthians. Um negro alto, forte, de pele retinta e com futuro promissor defendendo o gol do Parque São  Jorge.  Por mal destino, mas também por semelhança  recebeu o apelido do goleiro negro Barbosa. O Corinthians estava há 13 anos sem título. Na final do campeonato paulista o seu time foi derrotado. O goleiro de ébano foi eleito como vilão e demitido do clube paulistano. Entraram 11 jogadores em campo, mas apenas o negro foi responsável pelo insucesso.  Um injustiça tal como fizeram com o goleiro Barbosa, em 1950.

O racismo apagou Barbosinha do futebol, mas não conseguiu apagar o seu  herdeiro. Silvio de Almeida escreveu o livro “Racismo  estrutural” , em que disserta sobre essa estrutura enraizada até  o pré-sal das terras  brasileiras. Quem viu segunda-feira o professor Silvio brilhando, sólido e impávido mal sabe o quanto o racismo foi cruel na sua vida e de sua família. Porém, Silvio não se abateu reuniu as forças para combater o racismo de forma primorosa. De certa forma é uma vendeta pela injustiça cometida contra o seu pai. Salve Barbosinha! Salve Silvio!

Jorge Santana, Historiador, Doutorando em Ciências Sociais (UERJ). @jorgesantana_sg

1 Reply to “Silvio de Almeida: a vendeta contra o racismo”

  1. Lucia Cristina Savio disse:

    Realmente, o estudo é muito importante pra nossa luta!

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