Das leituras solitárias no quarto para o mundo. Adriel, que sempre foi incentivado a ler, agora é ensinado a se defender do racismo
Com apenas 12 anos, Adriel Oliveira é um leitor voraz de dar inveja em muita gente. Através do perfil @livrosdodrii, esse pequeno soteropolitano indica leituras, faz resenhas e abre seu quarto para o mundo. Essa história poderia ser narrada com foco no racismo que Adriel sofreu nas redes sociais na última quarta-feira (27), quando recebeu em seu perfil mensagens que diziam: “Eu achava que preto era pra ta cavando mina não lendo. Você foi criado para ser pobre e preto.” No entanto, o pequeno Adriel tem uma linda história que vai muito além do racismo sofrido.
O jovem morador de Vila Laura, bairro de Salvador, foi incentivado desde cedo a ter o hábito de leitura. Antes da alfabetização sua mãe lia para ele, conforme foi crescendo foi lendo mais e mais a cada dia. O Notícia Preta conversou com Deise Santos de Oliveira, 32 anos, mãe de Adriel, que contou orgulhosa como seu filho ama ler.
“Quando ele era pequeno a madrinha achava que só o brinquedo não aguentaria dar, então ela sempre mandava livros para ele. Foi passando os anos e ele foi gostando mais ainda. Se tiver livro no lixo ele vai lá e pega. É uma guerra dentro de casa”,conta com alegria, Deise.
Admirador da cultura Geek e nerd, Adriel ajuda a mãe nas tarefas de casa. Em um momento que ficar em casa é fundamental, o garoto encontra refúgio na leitura. Se mostrando preocupada com a violência na capital baiana, Deise diz que incentiva a leitura como forma de manter seu filho distante das mazelas sociais.
“A gente já mora em um ambiente que não tem a cultura do livro presente e eu precisava tirar ele do mundo que não estava nada legal. Eu fui incentivando, fiz prateleiras dentro de casa, comprei marcador. Íamos para o sebo, pois não temos dinheiro para ficar comprando livros, então a gente vai para o sebo customizar. Customizei as prateleiras e até hoje ele ama. Não sei mais o que faço com tantos livros que ele gosta de ler”, relata Deise Oliveira.
A promotora de vendas teve que sair do emprego, há cerca de 1 ano e meio, para cuidar do companheiro que possui um lado paralisado como sequela de um acidente vascular cerebral (AVC), hoje precisa cuidar de “duas crianças”, como classifica. Assim, nem sempre sobra dinheiro para comprar livros, então Deise se reinventa com Adriel para manter o entretenimento com os livros.
“Hoje ele tem 31 livros, acabou de contar aqui. Como nós passamos por problemas financeiros ele acabou trocando alguns livros por outros livros e dinheiro. Os melhores estão aqui na prateleira e os que ele ganhou ele não se desfez, ficou de coração apertado. Ele vai lendo, vai passando para a prima, a gente também incentiva ela a ler. Ele tem ciúmes dos livros, mas vamos fazendo isso”, comenta a mãe que não esconde a felicidade do pequeno leitor.
Ao ser surpreendido com a mensagem racista, Adriel respondeu: “Em pleno século 21 as pessoas ainda são racistas? Atualizem-se”, escreveu o menino. Deise disse que orienta o jovem a ter orgulho da sua pele, orgulho de ser negro e que não deve se importar com essas pessoas, deve responder sempre.
“Eu pedi a ele que excluísse a mensagem da pessoa e ele queria responder com xingamento e eu disse para ele responder a altura. Disse que ele tem o que eu sempre passei, o orgulho da cor. Diga ele que ele não te feriu em nada, você tem muito orgulho da sua cor. Ele respondeu e a gente fez questão de apagar isso da nossa vida, mas teve uma repercussão que a gente nunca imaginou. Graças a Deus ele teve repercussão boa de amore carinho, ele chorou muito com as mensagens, está radiante”, relembra Deise que é umbandista e acredita que o mundo já está ruim o suficiente para se apegar a negatividades.
Com a repercussão do caso de racismo, Adriel viu seu perfil de 3 anos no Instagram crescer de forma acelerada. @Livrosdodrii passou de 259 seguidores para cerca de 92 mil em poucas horas. Deise Oliveira agradece as mensagens de carinho e segue ensinando Adriel a se defender sendo um menino negro no Brasil.
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