Helena Bertho se destaca como uma das principais executivas de Comunicação e Inovação do Brasil. Uma mulher negra que já passou por posições importantes em grandes empresas, e que continua ocupando um cargo de liderança no mundo corporativo, na área de diversidade e inclusão.
Neste Julho das Pretas, Helena Bertho conversou com o Notícia Preta para falar sobre sua trajetória, sobre o presente mas também sobre o futuro, sua carreira de mais de 20 anos e reconhecimento, e claro, no mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), a executiva também fala sobre ser uma mulher negra ocupando espaços importantes.
Formada em publicidade, a executiva já passou pela Coca-Cola e pela L’Oreal, e atualmente trabalha como diretora global de diversidade e inclusão do Nubank. Segundo ela, chegar ao lugar que ocupa hoje sendo uma mulher negra faz parte de um processo que iniciou há muitos anos.
“Acredito que minha carreira começa antes de mim, como consequência do trabalho e de sonhos de pessoas que projetaram um futuro até então impensado. É claro que tem esforço, trabalho duro e dedicação da minha parte – e muita fé-, mas trago a perspectiva de uma trajetória coletiva”, explica Helena.
Ainda que a conquista seja importante e significativa, a executiva não esconde as dificuldades de ser uma mulher negra ocupando um papel de destaque em uma grande empresa, que segundo ela, exige trabalho e dedicação todo dia.
“Sempre fui comprometida com minhas entregas, com a qualidade do trabalho, em fazer uma boa gestão do time e apoiar as pessoas no desenvolvimento de suas carreiras. Além disso, existe a dimensão de saber que faço parte de um pequeno grupo – menos de 5% de profissionais. Então busco ser a referência que não tive, abrir portas para outras pessoas, consciente da minha responsabilidade individual e coletiva”, afirma.
Antes de ingressar na área de comunicação, a executiva começou a trabalhar em uma área completamente diferente. “Comecei como técnica em Eletrotécnica, fazendo instalação de medidores de energia, com direito a bota, luva e mala de ferramentas na mão. Fiz escola técnica federal, CEFET, e isso foi um divisor de águas, pois me projetou para o mercado de trabalho com uma ‘profissão’”, contou.
Em seguida, Helena embarcou em outras experiências. Trabalhou em uma agência de publicidade, em ONGs, áreas de novos negócios, pesquisa, inovação, desenvolvimento de produto, marketing, Relações Públicas, Comunicação, Sustentabilidade e D&I.
“O fio condutor sempre foi pensar em pessoas e comunicação, como construir conexões legítimas com elas; como inovar, ser criativa e gerar impacto positivo. E, sendo muito pragmática, como agarrar as oportunidades que surgiam e como me reinventar e recomeçar algumas vezes”.
Tanta dedicação e trabalho são reconhecidos em forma de premiações. Helena Bertho já venceu o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2021 na categoria ‘Liderança’, e já foi reconhecida uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo, segundo o MIPAD (Most Influential People of African Descent) em 2022.
Além desses, Helena também em 2022 conquistou o Prêmio Caboré como ‘Profissional de Inovação’ e o Prêmio Nise da Silveira na categoria ‘Inovação e Transformação’ concedido pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Helena afirma que essas demonstrações de reconhecimento, demonstram que está no caminho certo.
“Logicamente, as premiações são sempre bem-vindas e celebradas, mas é preciso ter a consciência de que são parte de uma maratona em curso, e não uma corrida de 100 metros. Não é uma linha de chegada, mas uma sinalização de caminho”, explica a executiva, que continua:
“Costumo dizer que não trabalho com objetivo de ganhar prêmios, mas de gerar impacto, inovar e construir legado, sempre da melhor forma que puder”.
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Sabendo da importância do lugar que ocupa, a executiva tem grandes perspectivas para um futuro em que mais mulheres negras ocupem os espaços de direção e de liderança, de decisão.
“É preciso que minha geração conquiste cada vez mais espaço de liderança, para que se corrijam grandes distorções que temos visto ao longo da história, para que num futuro próximo esse tema não seja mais considerado uma “meta ambiciosa”, e por muitas vezes até um exceção inatingível, mas sim uma normalidade em nossa sociedade”.
Para isso, Helena explica o que acha necessário para que isso aconteça, na prática. “Ainda não acho que os movimentos que vemos de mulheres negras assumindo posições de liderança seja “a mudança”, porque ainda são pontuais. Claro que celebro, mas mudanças estruturais precisam ser coletivas e para isso políticas públicas precisam ser desenhadas e fortalecidas para que de fato todas nós tenhamos mobilidade e possibilidades de futuro”.
Segundo Helena, sua filha Olívia é uma das suas inspirações, por levá-la “diariamente a ser uma pessoa melhor”, e sua mãe, que afirma ter sido uma grande incentivadora em sua vida. “Ela me impulsionou a acreditar que inovar passa por construir novos espaços e ocupar aqueles que não foram desenhados para pessoas como nós”.
Sobre ser inspiração para outras meninas negras, Helena Bertho afirma que quer ser vista “como uma pessoa possível. De verdade. Que não desistiu”, e como referência. “Gostaria que me vissem como parte de uma geração de mulheres negras dispostas a quebrar paradigmas e construir algo de positivo para todas nós”.
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