“Não temos espaço, somos boicotados”, diz Havanna sobre o mercado fonográfico brasileiro para LGBTQIAP+

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A indústria fonográfica no Brasil tem revelado uma série de artistas LGBTQIAP+ nos últimos anos que fizeram e ainda fazem muito sucesso, como a cantora Gloria Groove, Liniker, Pabllo Vitar, Maria Gadú e outros. Mas o caminho não é fácil, principalmente para artistas independentes.

No mês da Visibilidade Trans, o Notícia Preta conversou com alguns artistas da comunidade, como a cantora Havanna, que é uma mulher transgênero, para falar sobre a relação do mercado da música com os artistas LGBTQIAP+.

“A minha arte e ser LGBT andam juntas. Levo minhas vivências e minha representatividade para tudo que faço. Nas minhas músicas exploro minhas histórias, medos e fantasias”, explica Havanna, que detalha como espera que a indústria veja sua carreira.

Cantora Havanna / Foto: Íra Barillo

A artista enxerga a relação entre o mercado da música e a comunidade ainda como distante e preconceituosa. “Não temos espaço, somos nichados e boicotados para não assumir lugares de destaque na indústria pois ‘influenciamos’ as pessoas por ser quem somos, e viver como vivemos”, expõe a cantora. Ainda sim, Havanna não desiste e defende o trabalho que desenvolve como artista.

“De forma completa, assim como a artista que sou, e levando em consideração as minhas qualidades e peculiaridades. Valorizando minha arte e meu corpo, que é um porta-voz da minha comunidade. Espero que meu trabalho reflita na vivência de cada pessoa LGBT que conhecer minha arte e as histórias que tenho para contar”.

Para o cantor Custódio, uma das dificuldades que os artistas da comunidade enfrentam é a falta de oportunidades fora de projetos específicos para esse público. Mas admite que hoje em dia há mais oportunidade. “Eu acho que o que um artista da época de 60, 70, 80 antes passava, eu nem vou imaginar o que é”, explica o artista. 

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O cantor afirma que artistas que conseguem furar a bolha da comunidade, como Pabllo Vittar e Gloria Groove, são referências de que as coisas podem mudar. “O mercado ganha, eu ganho como artista, o comércio ganha, quem ouve a música ganha e as plataformas de música também ganham”, detalha o artista. 

Cantor Custódio / Foto: Alexandre Araujo

Por outro lado, o cantor Ferreira Nunes sinaliza que, mesmo com muitos artistas ganhando a grande mídia recentemente, por se tratar de dinheiro, a indústria fonográfica ainda encara a aposta nos artistas da comunidade como um risco. “Isso é muito novo para uma sociedade que ainda é tão racista, homofóbica, sexista, como a sociedade brasileira. Então para o mercado ainda é uma linha muito difícil de ser sustentada”, analisa.

O cantor Custódio diz que ainda encontra mais resistência em gêneros musicais como o rap e o trap. “A primeira coisa que olham quando abrem o meu Instagram é um arco-íris. Geralmente eles ligam que um artista LGBT não se daria bem no rap, ainda mais o público negro, que também é parte do meu público. Para artistas independentes que estão em busca de um projeto, isso ainda é uma barreira”, explica o cantor, que afirma gostar de transitar por diferentes gêneros musicais. 

Cantor Ferreira Nunes. Fotógrafo: Lucas Dias /Batuke Assessoria de imagem

Ferreira Nunes pontua a dificuldade da indústria em ver os artistas LGBTQIAP+ que estão começando, como profissionais. “Muitas vezes a gente entra no mercado querendo trabalhar, querendo expor a nossa arte e receber por isso. É um trabalho como qualquer outro”

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Sobre sua arte, Ferreira conta que por enxergar seu corpo como um corpo político, coloca todas as suas vivências e seus “lados” nos projetos. “Eu que sou negro, nordestino, favelado e gay, isso tudo gera em mim a necessidade de expressar o que de fato eu quero falar, principalmente sobre respeito, aceitação, valorização da minha cultura”, explica o cantor.

Dia da Visibilidade Trans

Instituído em 2004, o Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado sempre em 29 de janeiro e o intuito é combater a violência e a opressão sofridas por essa população. Segundo um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (Antra), o Brasil é o país que mais mata pessoas da comunidade.

De acordo com o Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transsexuais Brasileiras, publicado no ano de 2022, somente no ano de 2021 foram 140 assassinatos de pessoas trans. Uma queda em relação a 2020, que atingiu o pico de 175 mortes.

Porém, os números ainda são alarmantes. A média anual de mortes de travestis e transsexuais é de 123 pessoas, contando desde o ano de 2008, quando o estudo começou a ser realizado. O ano de 2017 foi o que mais ceifou vidas de pessoas trans, com 179 assassinatos.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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