A violência armada contra crianças e adolescentes na Região Metropolitana do Recife alcançou números alarmantes em 2024. Na última segunda-feira (14), a região atingiu a marca de 120 adolescentes baleados no ano, conforme levantamento do Instituto Fogo Cruzado. Essa estatística reflete uma média de 12,6 adolescentes baleados por mês, ou três vítimas por semana.
Entre os adolescentes atingidos, 83 perderam a vida, representando 69% das vítimas, enquanto outros 37 sobreviveram com ferimentos. Esse cenário é ainda mais preocupante quando se observa que cinco das vítimas foram atingidas por disparos de agentes de segurança pública. A maioria dos adolescentes baleados são meninos, com 106 casos registrados, enquanto 14 meninas também sofreram com a violência armada.
A faixa etária predominante entre as vítimas é de 15 a 17 anos, com 99 jovens afetados. Outros 16 tinham entre 12 e 14 anos, e cinco adolescentes tiveram suas idades não identificadas. Além disso, seis crianças de até 11 anos também foram baleadas, das quais duas não resistiram.
Os dados mostram que a violência armada contra adolescentes está concentrada em alguns municípios. Recife lidera com 37 adolescentes baleados, seguido de Olinda e Cabo de Santo Agostinho, com 18 vítimas cada, e Jaboatão dos Guararapes, com 16.
No entanto, quando analisamos a proporção entre o número de vítimas e a população de cada município, é revelado um cenário de desigualdade. Cabo de Santo Agostinho, por exemplo, responde por 15% dos adolescentes baleados, apesar de representar apenas 5,4% da população metropolitana. Olinda segue a mesma tendência, com 15% das vítimas e 9,4% da população da RMR (Região Metropolitana de Recife).
Aumento na violência armada de um modo geral
A aumento da violência na Região Metropolitana do Recife atinge também as faixas etárias além dos mais jovens. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, entre janeiro e julho de 2024, foram registrados 1.103 tiroteios/disparos de arma de fogo na região, um aumento em comparação aos 1.043 tiroteios no mesmo período de 2023. Nesse intervalo, o número de vítimas baleadas também subiu, chegando a 1.228, das quais 884 morreram e 344 ficaram feridas.
Dos 118 tiroteios registrados em julho, 97% resultaram em mortos ou feridos. Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto em Pernambuco, destaca que os tiros no estado são “endereçados”, o que significa que quase todos os disparos acabam atingindo uma ou mais pessoas, o que evidencia o alto nível de letalidade e a falta de respostas efetivas por parte do Estado para combater essa violência crescente.
“[…] 97% dos tiros na Região Metropolitana do Recife terminam com vítimas. O que isso significa? Que a letalidade na nossa região é maior que nas demais regiões metropolitanas mapeadas pelo Fogo Cruzado. Os tiros em Pernambuco são endereçados. Quase sempre atingem uma ou mais pessoas […]”, avaliou a coordenadora.
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