“Cada um tem um papel na sociedade, o meu é de gerar recursos para quem está na ponta”, diz Tom Mendes do ID_BR

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Diretor financeiro de um dos maiores institutos do país, o Instituto Identidades do Brasil (ID_BR), cria da favela do Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e um transformador de sonhos em realidade. Esse é Tom Mendes. Em entrevista ao Portal Notícia Preta, o executivo de 33 anos falou sobre sua trajetória profissional e pessoal. Um dos sonhos que Tom transformou em realidade vai ao ar nesta sexta-feira (26) no canal Multishow, o Prêmio ‘Sim a Igualdade Racial 2023’, do qual ele é Diretor Geral ao lado de Luana Génot. O prêmio também será transmitido no próximo domingo na TV Globo logo após o Fantástico.

Cada um com as suas escolhas ou necessidades tem um papel específico na sociedade, e o meu é de gerar recursos para as pessoas que estão lá na ponta, brigando”, diz Tom.

Tom Mendes durante o Prêmio ‘Sim a Igualdade Racial 2023’, realizado no Rio de Janeiro /Foto: Lilo Oliveira – ID_BR

Formado em  Administração na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Tom teve seu contato com o mundo financeiro ainda dentro da faculdade. Ele fez parte do Coletivo Nuvem Negra, onde cuidava da parte financeira e de captação do coletivo.

E lá dentro é que eu fui descobrindo as outras coisas que eu fiz na vida, em um lugar de possibilidade, de liderar, de entender como se ganha dinheiro. E aí começa na faculdade essa construção minha de entender a importância de processos, a importância da gestão para a comunidade negra”, conta.

Administrar a parte financeira do coletivo foi uma virada de chave importante na construção pessoal e profissional do jovem que na época também trabalhava de madrugada e ainda era militar da Força Aérea Brasileira (FAB).

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Tom Mendes vive um processo que vai além dos projetos que toca no meio empresarial. Depois de já ter feito parte da religião evangélica, hoje o executivo se conecta com suas raízes ancestrais e com sua espiritualidade no Candomblé, com as bênçãos de Xangô Airá, que lhe guia nessa jornada.

Sua ligação com essa área ficou tão forte, que isso esteve presente durante o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2023. Nesta qualidade do orixá, ele veste branco, cor usada tanto por Tom quanto por Luana Génot durante a premiação na qual ele assina a direção geral, que com o tema ‘Origens e Raízes’ aborda exatamente essa conexão com a ancestralidade da comunidade negra e indígena.

Sua infância em Acari

Criado nas vielas do bairro de Acari, Tom reafirma que teve muita sorte. “Já tentaram usar minha história como de superação, mas eu digo para não usarem pois eu precisei de muitas políticas públicas, sorte, de umas poucas pessoas que passaram pela minha vida que conseguiram me orientar”. Ele lembra da mãe paraibana, que faleceu em 2021 por conta da Covid-19, e do pai cearense, que estudaram até a segunda série e não puderam orientá-lo muito bem quanto à educação.

“Então, a minha vida poderia ter dado muito errado, por conta do ambiente e de todas as orientações”, diz ele. Mas deu certo. Hoje, entre muitos elogios ao lugar onde foi criado, Tom afirma da sua vontade de levar para a região mais possibilidades. “Eu tenho que voltar para o lugar que eu nasci com alguma coisa na mão. Até porque eu sei que a mistura de quem eu sou hoje, perpassa por Acari”, conta. 

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Foi lá que ele afirma ter aprendido a compartilhar, com sua vizinha Sandra, que na época morava com seus 10 filhos bem próximo de Tom. “A gente tinha uma forma de se comunicar bem interessante. Éramos vizinhos de parede e quando ela queria alguma coisa da casa da minha mãe, ela batia na parede e eu ia correndo lá. E a mesma coisa ao contrário”, conta ele. E fazendo essa ponte para a vida acadêmica, tem a Dona Alzira.

A senhora que trabalhava perto de sua mãe, vendendo lanches como ela. Segundo Tom, ela o incentivou a ir mais além nos estudos. “Ela me orientou para ir para o Juscelino Kubitschek, que é uma escola técnica né. Eu consegui passar, mas descobri que tinha que pagar o livro, e minha mãe não tinha condição. Aí ela [Dona Alzira] me deu no primeiro ano um livro de química, o único que eu tinha”. 

Trabalho em prol da mudança

Depois de se especializar na área de gestão de projetos, Tom montou seu negócio onde ele apoiava e assessorava, fazia consultoria e construção de políticas para empreendedores que tinham essas dificuldades. 

Logo em seguida chegou o ID_BR em sua vida, após conhecer Luana Génot, Fundadora e Diretora Executiva do Instituto. E desde que começou a fazer parte dessa jornada em 2017, Tom se dispõe a mudar a relação das pessoas negras com o mercado.

Pessoas negras falando de dinheiro era como se fosse uma coisa errada. E isso eu sempre achei um absurdo”. E Tom se orgulha muito do que construíram.

Foi uma maluquice o que a gente fez, mas a gente entendeu que se a gente não fizesse isso, ninguém faria por nós porque a gente estava no front ali, criando metodologias para o mercado. Até hoje somos conhecidos por isso”, explica o diretor financeiro e administrativo. Tom ainda avalia que o perfil das pessoas que tomam as decisões, mesmo após tantas mudanças, são homens brancos acima dos 40 anos. 

Tom Mendes e Luana Génot durante o Prêmio ‘Sim a Igualdade Racial 2023’, realizado no Rio de Janeiro /Foto: Lilo Oliveira – ID_BR

Meu papel hoje no mercado, juntando a tecnologia, a temática racial, o empreendedorismo entre várias outras frentes, é falar do poder da caneta. Precisamos de mais pessoas negras tendo o poder da caneta, essa é a principal coisa, se não eu não tenho uma solução”. 

Por isso ele defende que mais pessoas negras ocupem os postos mais altos. “Precisamos de mais ministros e ministras negras, pessoas negras ocupando cargos de reitor no meio acadêmico, sendo CEOs”, afirma ele que também diz não querer que outras pessoas tenham que passar pelo que ele passou.

Eu me sinto em uma posição de abrir caminhos, gerar oportunidades”, diz ele.

Bárbara Souza

Bárbara Souza

Carioca da gema, criada em uma cidade litorânea do interior do estado, retornou à capital para concluir a graduação. Formada em Jornalismo em 2021, possui experiência em jornalismo digital, escrita e redes sociais e dança nas horas vagas. Se empenha na construção de uma comunicação preta e antirracista.

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