Fonte: RFI
O rei Willem-Alexander, da Holanda, anunciou na quinta-feira (13) que não usará mais a “Carruagem Dourada”. O veículo, utilizado pela realeza holandesa desde 1901, traz em sua lateral um painel com a imagem de homens negros ajoelhados diante de seus senhores brancos.
A relíquia histórica está no centro de um debate sobre as imagens da colonização e o racismo na sociedade holandesa.
Desde 2015, a luxuosa carruagem feita de madeira revestida por ouro não é utilizada pela família real holandesa, parada para reforma. Antes disso, o veículo dourado era usada pelos monarcas para irem a batizados, casamentos e outras grandes ocasiões.
Após uma renovação completa que durou cinco anos, a carruagem é hoje a peça central de uma controvérsia no país por conta de seus painéis decorativos.
Do lado esquerdo, uma pintura sobre o período colonial representa negros escravizados ajoelhados diante de homens brancos e de uma mulher sentada no trono que representa a Holanda. Os negros entregam-lhe cacau e cana de açúcar (veja na imagem abaixo).
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O quadro, chamado “Homenagem das Colônias”, também mostra um jovem branco dando um livro a um menino negro, uma cena na qual o pintor Nicolaas van der Waay disse, em 1896, ter representado a “civilização”.
A discussão sobre o tema provocou um acirramento de humores no país.
De um lado, grupos acusam a monarquia de glorificar um período de opressão racista e desumana do país. De outro, defensores do artefato consideram que a carruagem é um objeto histórico que revela momentos importantes da Holanda que não devem ser apagados.
Na declaração dada na quinta em um vídeo oficial, o rei disse considerar que a sociedade holandesa não está “pronta” para ver a carruagem, conhecida como “Gouden Koets”, nas ruas novamente durante as cerimônias oficiais.
“Não podemos reescrever o passado. Podemos tentar aceitá-lo juntos. Isto também se aplica ao passado colonial”, afirmou Willem-Alexander. “A Gouden Koets só poderá ser usada quando a Holanda estiver pronta para isso. E esse não é o caso no momento”.
“Enquanto houver pessoas vivendo na Holanda que sintam a dor da discriminação no cotidiano, o passado ainda lançará sua sombra sobre nosso tempo”, acrescentou o monarca.