A comunidade da vila da barca, maior favela de palafitas em Belém, denúncia que as obras realizadas para a COP30 estão jogando esgotos provenientes de áreas nobres e rejeitos da construção na própria comunidade, sem trazê-la qualquer benefício direto. Segundo lideranças locais, o projeto não incluiu consulta previa aos moradores, reforçando o que chamam de racismo ambiental.
A beira da baía da Guajará, a estação elevatória de esgoto parte do projeto “Nova doca”, com investimento de cerca de R$ 310 milhões está sendo erguida em um terreno da Vila da Barca, desapropriado em dezembro de 2024. A assinatura de R$ de 25 milhões contará com aproximadamente 7.600 m de rede coletora, mas captará apenas esgoto dos bairros de classe alta como na Avenida Visconde de Souza Franco, Reduto e Umarizal, os moradores da própria comunidade afirmam que permanecerão sem rede de apoio de saneamento doméstico.
Moradores relatam que entulhos, lama e poeira decorrentes da mobilização de caminhões tem sido despejados em terreno da Vila da Barca, obstruindo vias de acesso e prejudicando a saúde e mobilidade, especialmente crianças, idosos e pessoas com deficiência. Em consequências desses impactos, crescem os casos de irritações na pele, problemas respiratórios, proliferação de insetos e roedores.
racismo ambiental: na maré moradores da vila da barca denunciam impactos da obra da COP30 em Belém/ foto: agência Brasil
Durante a audiência pública, representates da comunidade levaram a Cosanpa uma garrafa de água amarelada e com odor, colhida diretamente da torneira, bebida que os diretores da empresa não ingeriram, apesar de anunciarem que consumiriam a água distribuída ao público. Segundo a pedagoga Inêz Medeiros, a estação de tratamento do conjunto habitacional, existente há cerca de uma década, segue fora de operação, deixando parte da comunidade sem tratamento mesmo onde há infraestrutura existente.
A concepção técnica do projeto foi contestada pelo geógrafo Thiago Sabino, que afirmou que o trajeto planejado transfere os impactos ambientais e sanitários para uma comunidade carente e sem saneamento básico, enquanto protege áreas valorizadas da cidade. Dados de 2023 indicam que Belém tem apenas cerca de 6,3% de coleta de esgoto e somente 2,38% de tratamento, colocando a capital entre as piores do Brasil nesse quesito.
A deputada estadual Lívia Duarte (PSOL) levou o caso ao Ministério Público Estadual e Federal, alegando que os entulhos da obra da COP30 e o esgoto da Doca estão sendo despejados na Vila da Barca, em violação de direitos e injustiça ambiental racializada .
Em nota, o governo do Estado afirma que a estação elevatória “não gera efluentes, nem lançamento de esgoto no local” e que o sistema atenderá toda a bacia do Una, incluindo o bairro do Telégrafo, onde se localiza a comunidade, com esgoto transportado até uma estação a aproximadamente 8 km da Vila da Barca. A gestão estadual também afirma que apresentou os aspectos técnicos em reuniões com moradores realizadas em maio de 2025 .
Apesar disso, moradores afirmam que as reuniões não incluíram diálogo sobre impactos à comunidade de palafitas e que resistem ao que consideram a externalização de um ônus ambiental não reconhecido pelas autoridades .