Por Louise Freire e Dandara Maria Barbosa
Os altos índices de queimadas na região do Jalapão, sudeste do Tocantins, prejudicam artesãos e moradores quilombolas. O fogo tem afetado a colheita e produção do capim dourado e consequentemente a fonte de renda dos quilombos locais. A colheita do capim dourado acontece apenas uma vez por ano, no fim de setembro. As peças produzidas pelas mãos dos artesãos são revendidas no Brasil e no exterior.
A quilombola e artesã da comunidade Mumbuca, Ana Mumbuca fala sobre a preocupação dos moradores locais diante das queimadas. “Sempre tem aparecido um foco e cada campo que é queimado é um capim a menos; é uma cultura a menos, são muitas vidas a menos. Então, para nós do quilombo a situação é bem preocupante”, explica.
Para conscientizar a população sobre os prejuízos dos incêndios para os quilombos, as comunidades criaram um manifesto ‘Pela Defesa do Artesanato de Capim Dourado e do Cerrado’.
“Nosso parâmetro é cada fio, cada vida que é queimada fora do tempo. A gente não aceita que sejamos queimados. Queremos conscientizar as pessoas, em nível nacional, que consomem os produtos de capim dourado, que consomem os produtos do cerrado para que elas possam entender a dinâmica do que estamos enfrentando”, enfatiza a quilombola.
Nos últimos anos, as queimadas assolam diversas regiões do país, sobretudo o Pantanal e Amazônia, e no Cerrado não está sendo diferente, Ana chama atenção para a falta de visibilidade das queimadas nos arredores dos quilombos do Jalapão.
“Nós queremos falar sobre o fogo, sobre nossas vidas aqui no cerrado. Nós vemos o fogo na Amazônia, o fogo no Pantanal, mas e o fogo no Cerrado que vem nos queimando há séculos? Vem nos queimando há muito tempo. Como o cerrado se adaptou ao fogo com muita resistência assim também fomos nós. Nos adaptados a situações tão difíceis e o mundo precisa saber. Precisamos que divulguem nossa luta em canais de pretos, isso mostra aquilombamento na prática”.
Segundo o Governo do Tocantins, por meio do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), entre os meses de julho a novembro, é proibido usar fogo para limpeza e manejo de áreas rurais no Tocantins. A medida é necessária uma vez que, historicamente, o período de estiagem já começou e associado aos ventos fortes e à vegetação seca do cerrado, aumenta significativamente as ameaças de incêndios. Mas infelizmente muitas pessoas desobedecem e os focos acabam se espalhando.
O Parque do Jalapão fica na região leste do estado do Tocantins, tem mais de 34 mil km² de área de preservação ambiental. No local ficam as principais atrações turísticas do estado, como as dunas, fervedouros, cachoeiras e comunidades quilombolas, sendo as mais conhecidas a Prata e Mumbuca.