Por Dr. Saulo Gonçalves – Nutricionista Clinico
O que as queimadas tem a ver com a nutrição?
As queimadas recentes que atingiram São Paulo, Brasília e Manaus estão fortemente ligadas à prática da pecuária e ao desmatamento, exacerbadas pelas condições de seca prolongada e eventos climáticos
extremos como o El Niño. E, claro, política também.
O desmatamento é utilizado para liberar terras para a agropecuária, principalmente para a criação de gado. Este processo envolve a derrubada de florestas durante a estação chuvosa, seguida da queima
da vegetação restante na estação seca para preparar a terra para pastagem ou cultivo. Em 2024, essa prática resultou em um aumento significativo dos incêndios em áreas como o Amazonas, Pará, e
também no Cerrado e Pantanal, onde a seca severa intensificou a propagação do fogo.
Além disso, a gestão inadequada e o enfraquecimento das políticas ambientais no Brasil têm facilitado a continuidade dessas queimadas, com pouca fiscalização e controle sobre atividades ilegais, como o
grilagem de terras e o desmatamento. Essa situação está levando a um ciclo vicioso de degradação ambiental, onde as queimadas contribuem para o aquecimento global, que por sua vez torna o ambiente mais propenso a novos incêndios.
Hoje, mais da metade da floresta queimada vira pasto, num país que já tem mais gado do que gente. Tudo indica que a nossa forma de olhar para a natureza, para a alimentação, e para as relações de classe que atravessam a nossa perda contínua de soberania alimentar, ecológica e territorial, precisa mudar radicalmente se pretendermos salvar o que resta dos nossos biomas.
Portanto, enquanto as condições climáticas como a seca e o El Niño agravam a situação, a raiz do problema está profundamente conectada à expansão da pecuária, ao desmatamento descontrolado e à bancada conservadora negacionista ruralista.
Quando digo que nutrição é política, economia, cultura, social, ambiental. É sobre isso!! Comer é um ato político!
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