Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Ministério da Igualdade Racial (MIR) revelou que 69,9% das pessoas que atuam em trabalhos domésticos e de cuidados remunerados no Brasil são mulheres negras. O estudo, intitulado “O Cuidado Enquanto Ocupação: Em Que Condições?”, foi apresentado durante o seminário “Trabalho, Cuidado e Parentalidades”, promovido pelo Ipea em comemoração ao Dia Internacional da Mulher.
A pesquisa contou com 1.196 participantes, dos quais 93,9% eram mulheres e 6,1% homens. Além disso, destacou que 79,6% das cuidadoras atuam em domicílios familiares, evidenciando a responsabilidade das famílias no cuidado de pessoas dependentes.

Observou-se também uma disparidade na escolaridade: 52,4% das trabalhadoras domésticas negras não concluíram o ensino médio, em comparação com 42,9% das não-negras, reforçando a desigualdade racial entre mulheres que desempenham a mesma atividade.
Mais dados
Outro estudo apresentado no evento, “Notas Breves sobre a Subutilização da Força de Trabalho entre Mulheres Negras”, evidenciou que, no primeiro trimestre de 2021, 42,8% das mulheres negras estavam em condição de subutilização da força de trabalho, contra 29,1% das mulheres brancas.
No segundo trimestre de 2024, as mulheres negras foram mais afetadas pela subocupação por insuficiência de horas (7,3% contra 4,4% das brancas) e pelo desalento (4,6% contra 2,1% das brancas).
Além disso, foi destacada a ausência de registros nacionais sobre licença-paternidade, contrastando com a disponibilidade de dados sobre licença-maternidade. Entre 2016 e 2022, houve registros de licença-maternidade para homens, variando de 11.370 a 23.524 casos anuais, principalmente em situações como morte da mãe ou em casais homoafetivos masculinos.
No setor público, o Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Siape) registrou 2.012 licenças-paternidade em 2023, número inferior ao pico de 2.411 em 2019. O estudo reforça a necessidade de melhorias nos registros administrativos para promover políticas públicas que incentivem a participação masculina no cuidado familiar.
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