Estrelando o próximo clipe do ‘Baco Exu do Blues’, intitulado Bluesman e que será lançado nesta sexta-feira (23), o ator Kelson Succi mostra que, definitivamente, desceu o Complexo do Alemão e invadiu o asfalto com sua arte. Após uma temporada de sucesso no Rio de janeiro com o monólogo ‘Cuidado com Neguin’, escrito, dirigido e encenado por ele, o ator de 25 anos foi convidado para participar do vídeo do rapper baiano. “Eles (equipe do Baco) assistiram a minha peça no Rio e depois me convidaram para fazer o clipe”, explica o ator.
A história da música Bluesman tem pontos em comum com a peça ‘Cuidado com Neguin’ assim como com a vida de Kelson. O clipe do Baco apresenta um personagem jovem e negro correndo nas ruas e sujeito à múltiplas interpretações. Na peça, um também jovem negro, pobre e favelado desce o morro e descobre o asfalto. Descobre também o que é ser negro lá embaixo. Uma história que tem muito da realidade do artista carioca de 25 anos: “Quando eu desci do morro descobri toda uma cidade. Descobri que eu era preto, a cidade me disse: “Querido Você é preto”. Quando eu estava no Alemão eu era um neguinho, perto de outros neguinhos e estava tudo certo. Isso acabou mexendo comigo. Quanto ator, eu tive várias questões como a falta de oportunidade, de representatividade e de não ser encaixado dentro das dramaturgias. Isso me incomodava muito”, explica Kelson.
Trabalhando com teatro há mais de seis anos, o ator Kelson Succi iniciou sua formação artística na ONG Spectaculu, um projeto social de Marisa Orth e Gringo Cardia e formou-se na escola de teatro O Tablado, uma das mais tradicionais do Brasil. Para Kelson saber ocupar os espaços é uma forma de resistência: “Como Diria o Baco Exu do Blues, ‘não foi pedindo licença que eu cheguei até aqui’. Não foi mesmo. Fiz questão, corri atrás. Ainda tem muito a questão de precisarmos deles (o sistema existente), mas acho que temos sempre que equilibrar no sentido de entender que precisamos, mas sabermos da nossa potência. Falar a nossa verdade e invadir”.
Kelson Succi acredita que a arte e a união dos negros são as melhores formas de enfrentar os desafios futuros: “Temos que pensar as estratégias dos nossos corpos. Precisamos nos unir e nos proteger. O racismo velado preocupa a gente, mas agora, após as eleições, nós sabemos quem está do nosso lado e quem não está. Isso já alivia pra caramba. A arte cria mecanismos e gambiaras que a gente consegue se estruturar e se fortalecer. A potência da arte por si só faz a gente ter força. A arte virá cada vez mais furiosa”.