Polícia registra no boletim de ocorrência como se a empresa não tivesse “servido o cliente”
No último dia (27), Rodrigo Roel Costa Junior, analista de sistema, foi a uma clínica de estética em Uberaba (MG), fazer uma avaliação, porém foi impedido pela proprietária de entrar no estabelecimento.
O analista de sistema tinha acabado de sair da academia e foi em direção a clínica agendar um horário, porém, assim que atravessou a rua em direção ao local, a proprietária do estabelecimento foi rapidamente tentar fechar a porta, perguntando o que ele estava fazendo ali. “Eu senti, nessa atitude dela de sair tão rapidamente do local tentando fechar a porta, com um olho arregalado com medo de mim, perguntando o que eu estava querendo fazer ali, que ela estava desconfiando que eu fosse assaltar o local. Eu estava querendo ficar na defensiva para provar para ela que a minha intenção não era essa, mas ela queria que eu saísse de lá de qualquer forma”, relata.
Roel diz que explicou que gostaria de marcar um horário para fazer avaliação, mas a mulher pediu que ele voltasse em novembro, pois, por causa da pandemia, ela não estava atendendo ninguém. Estranhando o tratamento recebido, o analista de sistema, telefonou para a mãe e pediu para que ela ligasse para a clínica e tentasse marcar um horário.
A mãe de Roel conseguiu marcar a consulta para o mesmo dia, às 17h30. Durante a ligação a mãe do analista perguntou se homem podia entrar no local, a proprietária informou que sim, que poderia ser feita até uma consulta dupla com ela e o acompanhante. “Voz não tem cor, então ela não viu problema em atender a minha mãe e seu acompanhante e tratou ela super bem ao telefone”, comenta.
Dificuldades para registrar o boletim de ocorrência como racismo
Depois de ter a confirmação que tinha sido alvo de racismo, o jovem ligou para a polícia, porém, Roel relatou uma demora excessiva na ação por parte da corporação para encaminhar a mulher à delegacia. “A princípio a polícia disse que não atenderia a esse tipo de ocorrência, só depois que fomos à delegacia e falamos sobre a lei de racismo que os policiais foram à clínica. No entanto, demoraram mais de 2 horas para conduzi-la até a delegacia”, explica o pai de Rodrigo Roel.
Ao chegar na delegacia, o fato foi recebido pelo delegado de plantão, que disse “não ter visto provas conclusivas” e que mandaria o ocorrido ao Ministério Público e não configurou o flagrante.
Ao fazer o registro na delegacia, Rodrigo disse que ficou decepcionado por não conseguir enquadrar o ato como racismo e sim como: impede acesso a comércio /não serve cliente. “Eu queria que o boletim tivesse tratado o caso como racismo, usado essa palavra e não de colocar que eu fui impedido de entrar no local, era para ser racismo, porque foi isso que aconteceu”, enfatiza.
Rodrigo acredita que a polícia poderia ter pedido as imagens da câmera interna da clínica, das lojas vizinhas para comprovar o que aconteceu. “A vítima tem que provar toda a sua questão, é muito injusto, eu sou a vítima e tenho que procurar todo tipo de prova enquanto ela fica parada”, comenta com indignação.
Versão da clínica
À Polícia Militar, a mulher disse que conversou com Rodrigo de forma educada e não permitiu a entrada dele na clínica devido a pandemia. E justificou que conseguiu marcar um horário para a mãe de Rodrigo, pois tinha tido uma desistência. Ela ainda disse a Polícia Militar que não praticou crime relacionado a racismo.
O que a Polícia diz
Em nota a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) disse que esteve no local dos fatos e adotou todas as providências legais, “inclusive a autora foi conduzida ao Departamento da Polícia Civil (DEPOL)”. Sobre o registro da ocorrência como: impede acesso a comércio /não serve cliente e não racismo, a polícia explica que a classificação da ocorrência segue critérios técnicos e o teor do histórico esclarece todo o fato. Já sobre a demora no atendimento à ocorrência, a PM não explicou o porquê na nota enviada ao Notícia Preta.