Professora é apedrejada por alunos de escola na Bahia após aulas sobre cultura afro-brasileira

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‘Diabólica’, ‘feiticeira’ e ‘demônia’ estão entre os xingamentos usados por alunos para ofender a professora Sueli Santana, que trabalha na Escola Municipal Rural Boa União, em Camaçari, Bahia. O caso que ainda contou com o apedrejamento de Sueli, aconteceu em outubro deste ano, mas só comeõu a repercurtir nesta semana, e é investigada pela Polícia Civil.

A professora que é candomblecista, denunciou estar sendo atacada por alunos por conta da sua religião e conta também ter sido apedrejada dentro da escola onde trabalha. Os ataques começaram no início do ano letivo, quando a professora iniciou o conteúdo de cultura afro-brasileira, que é obrigatório nas escolas pela Lei 10.639/2003.

A professora foi agredida por alunos enquanto corrigia atividades em sala de aula / Foto: Reprodução Redes sociais

Os agressores tem entre 10 e 12 anos de idade, e pertencem a mesma família, que são evangélicos e ingressaram no colégio este ano. O caso começou com agressões verbais, mas no final de outubro, enquanto a professora corrigia as atividades na sala de aula, foi apedrejada pelos alunos. A docente ficou afastada por três dias das atividades, após uma pedra atingir o seu pescoço.

“A pedrada que levei acertou o pescoço, mas poderia ter atingido a cabeça ou os olhos, causando sequelas”, disse Sueli ao Farol da Bahia

“Eu sou professora da rede municipal, mas também sou makota do Terreiro de Lembarocy, em Salvador. Makota é um título candomblecista, e eu sempre assumi minha religiosidade. Vou de branco toda sexta-feira à escola e, quando estou em rituais, além de vestir branco, cubro minha cabeça”, expressou a docente.

Sueli relata também que por muitas vezes chegou para dar aula e encontrou a Bíblia Sagrada em cima da sua mesa e versículos bíblicos escritos no quadro. Quando era pedido para que o dono retirasse, alunas diziam que “a Bíblia estava ali para que Jesus salvasse a minha alma”.

A diretoria da escola, por sua vez, se posicionou chamando os pais de alunos, mas não obtinha muito sucesso, pois as agressões tornavam a acontecer. Por fim, procurou a Secretaria de Educação para melhores orientações, mas a única orientação passada, foi que a professora parasse de usar o livro que estava sendo utilizado para trabalhar nas aulas, o ABC Afro-brasileiro.

“Na última semana, eu estava dando aula ainda com auxílio do livro, e a aluna olhou para mim e disse que a única coisa que os negros trouxeram para o Brasil foi a macumba e a maconha. Entre essas situações todas que eu vivi, os pais foram chamados e, por causa do livro, não só os pais dessas alunas, mas outros pais exigiram que os filhos não assistissem às aulas porque, além de a professora ser do Candomblé, esse tipo de aula não era para os filhos deles, pois falava sobre Candomblé“, contou. 

A Secretaria de Educação de Camaçari informou que recebeu a denúncia na última quinta-feira (21) e que já está apurando o caso. Em nota, disse repudiar qualquer forma de discriminação, seja de gênero crença ou cor. A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) da cidade, segue apurando as denúncias de lesão corporal e injúria contra a docente. Sueli registrou um boletim de ocorrência na 18ª Delegacia de Camaçari e formalizou junto ao Ministério Público da Bahia (MPBA), a denúncia neste mesmo dia.

“O racismo é sutil, e às vezes a gente quer tratar com educação. Eu sou professora e entendia que pelas vias educacionais isso seria possível. Mas, quando você percebe que há violência dentro daquilo, começa a compreender que está tomando outros rumos e que a resposta precisa ser diferente. Até então, eu sentia que era um preconceito comigo e fiquei na escola tentando resolver de forma educativa, trazendo a questão da religiosidade como um direito que todo mundo tem. Até culminar com o ato da violência física. A violência psicológica eu até estava suportando, mas, quando partiu para a física, senti que minha integridade estava ameaçada”, completou.

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