Duas perguntas rondam a mente do brasileiro médio quando o assunto é conto de fadas. Primeira, qual o padrão de beleza das princesas?
Segunda, quando se fala em quilombos, qual a primeira imagem que vem a sua mente?
Terceira pergunta – e surpresa – não podemos ter uma princesa Quilombola? Essa foi uma das perguntas que a professora carioca, Sinara Rúbia se fez para criar a Princesa Alafiá.
Segundo a professora, depois de procurar referências de cultura negra na literatura para sua filha, Sara, de 3 anos, e não encontrar nada além de esteriótipos e com o olhar a partir do racismo, ela decidiu criar a própria personagem, Alafiá, a Princesa Guerreira. “A personagem ganhou corpo durante a elaboração da minha monografia, do curso de letras. A princípio era um conto e se transformou em um livro que traz histórias da guerreira e quilombola imaginada em 2003, quando eu me preocupava com a construção da identidade da minha filha, uma menina negra que crescia e precisava ter referências tanto em filmes, como nas bonecas e em narrativas”, revela.
Para o término da monografia, em 2005, Sinara entrevistou meninas entre 5 e 12 anos da rede pública de Petrópolis (RJ) e concluiu que a literatura com personagens brancas impactavam a construção da identidade das crianças negras.
Ainda de acordo com Sinara, com as entrevistas, ela percebeu que com essa ausência, somada a outros mecanismos de imagens como a televisão, as bonecas e os brinquedos, a literatura legitimava a presença desqualificada que contribuía no processo de branqueamento e negação negra. “Quando perguntava para elas se pudessem mudar alguma coisa na personagem que mais gostavam ou preferiam, era perceptível que preferiam algo próximo ao biotipo físico delas. Havia a motivação para que elas se identificassem com as personagens, porém, para elas não as representava e contribuía para a negação dessa não condição de negro”, finalizou.