Por que pessoas negras se cumprimentam na rua mesmo sem se conhecer?

Dani-Bueno-CEO-do-Coletivo-Manas.png

Por Dani Bueno

Nas ruas do Brasil, é comum presenciar um gesto peculiar: pessoas negras se cumprimentando efusivamente, mesmo sem se conhecerem. Essa tradição vai além de uma mera saudação, carregando consigo uma história e significados profundos e com origem histórica.

A tradição dos cumprimentos entre pessoas negras nas ruas do Brasil tem raízes profundas na história da diáspora africana e na luta contra o racismo. Durante a escravidão e o período pós-abolição, as pessoas negras buscavam apoio mútuo em um contexto de discriminação e exclusão. Essa tradição foi desenvolvida como uma forma de reconhecimento, solidariedade e fortalecimento da identidade negra.

A filósofa e escritora brasileira Djamila Ribeiro destaca em seu livro “O que é lugar de fala?” a importância dos cumprimentos entre pessoas negras como um gesto de valorização e pertencimento. Ela ressalta que esses comprimentos são uma forma de afirmar a presença e a existência da comunidade negra no espaço público.

Dani Bueno é publicitária e fundadora do coletivo Manas /Foto: Divulgação

A tradição dos cumprimentos entre pessoas negras nas ruas além de seu simbolismo também tem impulsionado o networking e o empreendedorismo comunitário. Esses cumprimentos estabelecem conexões e relacionamentos que podem se transformar em oportunidades de negócios entre pessoas negras.

Quando morei na Ilha das Bermudas, tive uma história bastante engraçada: trabalhava como garçonete em um hotel 6 estrelas de renome, localizado em um bar, durante as Olimpíadas de Atenas. Em uma dessas ocasiões de cumprimentarmos desconhecidos pretos, conheci o VP de mídia de uma agência enorme de Nova York que, após simpatizar comigo, perguntou minha experiência profissional – o que é bastante comum lá fora, garçons serem uma profissão de transição para estudantes.

O Movimento Black Money, liderado por empreendedores negros, tem promovido o fortalecimento da economia da comunidade preta no Brasil. Fundado por Alan Soares e Nina Silva, busca incentivar o consumo consciente e o apoio aos negócios de pessoas negras, contrinuindo para o desenvolvimento de um network entre pessoas negras, conectando empreendedores e consumidores e gerando oportunidades de negócios.

A Conta Black, plataforma financeira criada por Sergio All e Fernanda Ribeiro, oferece serviços bancários voltados para a comunidade negra com o objetivo de promover a inclusão financeira e o empoderamento econômico. Essa iniciativa cria um network entre pessoas negras, fomentando negócios e investimentos dentro da própria comunidade.

Resultados financeiros

Pesquisas recentes têm demonstrado o impacto financeiro positivo dessas iniciativas lideradas pela comunidade preta no Brasil. Segundo dados da pesquisa “Pretos no Topo” da Mindset Ventures, realizada em 2020, o poder de consumo da população negra no país foi estimado em R$ 1,8 trilhão, evidenciando o potencial econômico dessa comunidade.

A pesquisa “The State of Black America” da Nielsen, também realizada em 2020, mostrou que o poder de compra da população negra globalmente ultrapassou US$ 1,4 trilhão. Esses números demonstram a importância do consumo consciente e do fortalecimento dos negócios comunitários liderados por pessoas negras.

A tradição dos cumprimentos entre pessoas negras nas ruas do Brasil é um símbolo de reconhecimento, solidariedade e fortalecimento da identidade negra. Além disso, tem impulsionado o networking e o empreendedorismo comunitário, conectando pessoas negras e gerando oportunidades de negócios. Exemplos como o Movimento Black Money e a Conta Black demonstram o impacto financeiro positivo dessas iniciativas lideradas pela comunidade preta.

Pesquisas recentes revelam o poder de consumo significativo da população negra, tanto no Brasil quanto globalmente, ressaltando a importância do fortalecimento dos negócios comunitários para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Os cumprimentos nas ruas entre pessoas negras não apenas fortalecem os laços comunitários, mas também geram um impacto econômico positivo, contribuindo para o desenvolvimento e o empoderamento da comunidade preta.

*Dani Bueno é publicitária e fundadora do Manas, coletivo de mulheres negras focado em marketing ESG

Leia também: Desafios da mulher negra para ascensão no mercado de trabalho

Deixe uma resposta

scroll to top