Vinicius de Lima Britto, policial militar que executou Gabriel Renan da Silva Soares, um jovem negro de 26 anos, com 11 tiros pelas costas em frente a um mercado na Zona Sul de São Paulo, foi reprovado no exame psicológico do concurso da PM em 2021. Na ocasião, a avaliação apontou descontrole emocional, impulsividade e inadequação para o cargo. No entanto, Britto foi aprovado na segunda tentativa, em 2022, após contestar judicialmente a avaliação inicial. O caso reacende o debate sobre os critérios de seleção da Polícia Militar e o impacto do racismo estrutural na segurança pública.
No dia 3 de novembro, o jovem negro Gabriel Renan foi executado após furtar três embalagens de sabão. As imagens do circuito de segurança mostram Vinicius disparando sem que a vítima representasse qualquer ameaça. O caso evidencia um contexto de violência policial com marcante recorte racial no Brasil, onde jovens negros são as principais vítimas da letalidade policial.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, jovens negros representaram mais de 75% das mortes decorrentes de intervenção policial em 2022. Esses dados refletem um padrão histórico de violência desproporcional direcionada à população negra, frequentemente associada à desumanização e à criminalização dessa parcela da sociedade.
Vinicius Britto foi reprovado no exame psicológico do concurso da Polícia Militar em 2021 por apresentar descontrole emocional, impulsividade, falta de liderança e inadequação no relacionamento interpessoal — características consideradas incompatíveis com o cargo. No entanto, após contestar judicialmente o resultado, ele conseguiu prosseguir no processo seletivo.
A avaliação psicológica é uma das seis etapas eliminatórias do concurso público para Soldado PM de 2ª Classe. A reprovação inicial de Vinicius foi confirmada pela Justiça em 2022, quando a juíza Lais Helena Bresser Lang, da 2ª Vara de Fazenda Pública, considerou o laudo psicológico adequado e tecnicamente embasado.
Apesar disso, ele já havia ingressado na corporação após abrir uma liminar contra o Estado de São Paulo. O caso levanta questionamentos sobre a eficácia dos processos seletivos e a reincorporação de candidatos considerados inaptos para funções de tamanha responsabilidade.
Esse caso traz uma questão para o debate: a saúde mental dos policiais militares. Estudos revelam que cerca de 15% dos agentes sofrem de transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão, condições agravadas pela rotina de violência e pressão na profissão. Esse cenário é um alerta para a necessidade de reformas nas estruturas da segurança pública e no cuidado com a saúde mental dos agentes.
O vídeo que capturou a execução de Gabriel foi divulgado pelo rapper Eduardo Taddeo, tio da vítima e integrante do grupo Facção Central. Nas imagens, Gabriel é alvejado por 11 disparos, incluindo três no tórax, três no antebraço direito, dois no dedo anelar esquerdo, um no antebraço esquerdo, um no rosto e um no ouvido.
O assassinato ocorre em um contexto de racismo estrutural, em que a vida de jovens negros é constantemente desvalorizada. Gabriel foi morto por furtar itens de baixo valor — uma reação desproporcional que reforça o papel do racismo institucionalizado na perpetuação de práticas violentas.
Urgência de mudanças estruturais
Casos como o de Gabriel não são isolados. Eles expõem falhas no recrutamento e formação dos policiais, aliadas a um sistema de segurança pública que opera, muitas vezes, com viés racista. A alta taxa de mortes de jovens negros e o estado de saúde mental dos agentes demandam mudanças urgentes: desde o fortalecimento de mecanismos de avaliação psicológica e acompanhamento contínuo até ações concretas para combater o racismo nas forças de segurança.
Enquanto isso, vidas continuam sendo ceifadas pela junção da violência estatal e do racismo estrutural, ambos profundamente enraizados na sociedade brasileira.
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