Em seguida, os casos de bullying são contra a comunidade LGBTQIA+
Uma pesquisa realizada pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE), e divulgada nesta quarta-feira (6), revela um dado que já se previa: a grande motivação dos casos de bullying no Brasil é a cor da pele e a orientação sexual.
Segundo o estudo, 32% das pessoas que sofreram algum tipo de bullying são negras, seguidos por pessoas da comunidade LGBTQIA+, com 24%, e aspecto físico ou padrão de beleza com 15%. A classe social vem em quarto lugar, com 8% dos casos.
Para a psicóloga clínica Maryllis Braga esse tipo de “violência” mexe com as feridas coletivas. “Geralmente está relacionando a cor da nossa pele, a nossa condição social, a nossa estética e isso sempre nos faz questionar quando seremos aceitos exatamente do jeito que somos. Fico me perguntando porque mesmo com tantas pautas sendo discutidas, ainda somos o grupo que maior sofre violência, e não digo de uma específica, mais de todos as tipos de violência existente”, questiona.
Escolas e faculdades são locais que deveriam dar um suporte aos alunos, mas, segundo a pesquisa, são os principais espaços para o cometimento do bullying. 63% dos entrevistados disseram que sofreram bullying em instituições de ensino, enquanto 25% afirmaram que foi através de celulares, mensagens ou redes sociais, e 4% em locais de trabalho ou próximo de casa. “E não se engane em achar que isso acontece apenas na escola com criança, acontece com você adulto que recebe um apelido que nunca gostou ou que em tom de brincadeira te ofendem de maneiras tão sutil ou nem tanto, diariamente”, alerta.
“Adilson Moreira, escritor do livro de racismo recreativo, explica como essa prática de humilhação social disfarçada de graça é passiva e permissiva nos lugares onde deveria se opor a essa prática. As instituições. E penso nelas como um todo, começando pela instituição familiar que deveria repreender quem pratica e se estendendo a todas as outras da nossa sociedade que fazem vista grossa pra ‘brincadeira’ de mal gosto”, afirma Braga sobre as diversas formas de violência sofridas pelas pessoas negras.
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A psicóloga alerta pra os danos causados pelo bullying na vida das pessoas que mais sofrem com a prática. “Essa violência destrói o nosso psicológico fazendo com que a vítima se sinta insegura, com baixa autoestima, complexo de inferioridade, podendo desenvolver fobia social, depressão, ansiedade e muitas vezes chegar ao suicídio. Porque lidar diariamente com quem tem prazer em te desestabilizar emocionalmente não é nada fácil e, lembrando que, quando a vítima comete um suicídio, ela quer acabar com o sofrimento e não com a vida”, enfatiza.
Faixa etária
A pesquisa mostra também quais as faixas etárias que mais sofrem com a prática. Entre as pessoas negras, 36% estão acima dos 60 anos e 28% entre 18 e 24 anos. 34% delas possuem ensino médio completo e 28% com graduação completa. Além disso, o levantamento mostra também que 34% das vítimas são mulheres e os homens somam 29%. “O insulto no qual o negro sofre, podemos pensar que é um tipo de manifestação de superioridade sobre aquela pessoa ou grupo. O bullying é uma construção social que vem se fortalecendo todas as vezes em que essas instituições deveriam se posicionar contra, mas se calam”, comenta.
“Diálogo e união é o que nos coloca a frente de quem acredita ser superior a nós. Porque é nos movimentos que nos fortalecemos e nas trocas que descobrimos e desenvolvemos meios de lidar com tal situação”, finaliza a psicóloga.
O Observatório Febraban ouviu 3 mil pessoas em todas as regiões do país, das quais 53% são do sexo feminino. O perfil dos entrevistados tem ainda 43% na faixa dos 25 a 44 anos; ensino médio (41%) e renda familiar de até dois salários mínimos (48%).
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