O estudo Coronavírus nas favelas: a desigualdade e o racismo sem máscaras, realizado pelo Coletivo Movimentos, mostra que a população negra é a mais atingida pela pandemia da Covid-19, nas favelas do Rio de Janeiro.
De acordo com o levantamento, 83% dos moradores entrevistados ouviram tiros durante a pandemia; 69% presenciaram ou souberam de operações policiais na favela durante este período, mesmo com a proibição imposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em junho de 2020.
O estudo realizado pelos membros do coletivo, com apoio do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), demonstra como a população destas favelas tem sido afetada pela pandemia. “O estudo tem o intuito de revelar a realidade das favelas por quem as vive. A pesquisa mostra que as vítimas da Covid-19 são, majoritariamente, pessoas pretas, pobres e periféricas”, afirma Aristênio Gomes, coordenador do Movimentos e morador do Complexo da Maré.
Para Ricardo Fernandes, coordenador do Movimentos e morador de Cidade de Deus, o governo federal ter deixado de investir mais de R﹩ 80 bilhões do orçamento destinado ao combate à pandemia, permitiu que a situação escalasse para os mais de 200 mil mortos pelo vírus em 2020, com taxas recorde de desemprego. “Além de construir uma potente rede solidária para suprir a ausência do Estado, os jovens das favelas discutem impactos da política de drogas em seu cotidiano, e produzem dados para que a sociedade conheça a realidade que vivemos sob a perspectiva de quem nasce, cresce e mora nesses lugares, que são alvo de várias violências do poder público”, comenta.
Violência doméstica
Outro movimento que a pesquisa mostra é o aumento nos casos de violência doméstica durante a pandemia. Segundo o levantamento, 73,8% dos entrevistados afirmaram sentir que houve um aumento de casos de violência doméstica. “As informações levantadas pela pesquisa colocam em pauta um cotidiano violento nas favelas, acentuado por atitudes dos governos federal, estadual e municipal que não só negligenciam o acesso às redes de cuidados e serviços dentro das favelas, como também são agentes ativos no plano genocida contra o povo preto e pobre”, lamenta Ricardo.
Perfil socioeconômico
A pesquisa mostra que a falta de saneamento favelas do Rio impede que as práticas orientadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sejam possíveis nas favelas. 63% dos entrevistados afirmaram ter ficado sem água em algum momento da pandemia, e a falta deste bem essencial faz parte da rotina de 37% dos moradores destes locais, dificultando a prática de ações preventivas à Covid-19.
Dados do relatório mostram que, no Brasil, pessoas sem escolaridade têm taxas de mortalidade três vezes maiores (71,3%) que pessoas com nível superior (22,5%). Nas favelas analisadas, apenas 16% dos participantes dizem ter ensino superior.
Ao todo, foram consultadas 955 pessoas, com a seguinte distribuição: 392 pessoas na Cidade de Deus, 305 no Complexo da Maré, 165 no Complexo do Alemão e mais 93 em outras localidades.