Pesquisa mostra impacto da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na empregabilidade e renda

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A pesquisa “Educação de Jovens e Adultos: Acesso, Conclusão e Impactos sobre Empregabilidade e Renda”, lançada nesta quinta-feira (04), traz um diagnóstico abrangente da modalidade e evidencia que concluir a Educação de Jovens e Adultos (EJA) melhora as condições de inserção no mundo do trabalho, com ganhos na formalização e na renda.

Os resultados indicam que, entre jovens de 19 a 29 anos, concluir a EJA aumenta em 7 pontos
percentuais as chances de conseguir um emprego formal e eleva, em média, 4,5% a renda
mensal do trabalho. O impacto é ainda maior para quem tem entre 19 e 24 anos: nesse grupo, a
probabilidade de formalização aumenta para 9,6 pontos percentuais, enquanto a renda mensal
aumenta em 7,5%.

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

A análise foi feita a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD Contínua), em um painel que cobre o período de 2014 a 2022. Dessa forma, foi
possível acompanhar os mesmos indivíduos durante cinco visitas consecutivas, em um intervalo
de três meses entre cada uma, reunindo informações sobre escolaridade, ocupação e rendimento.

Para quem vive em situação de vulnerabilidade, esses avanços podem significar deixar a informalidade, acessar benefícios trabalhistas e construir uma trajetória profissional mais estável. No Brasil, onde quase 60% dos jovens de 19 a 29 anos que não concluíram o ensino médio e não estudam estão nai nformalidade, conseguir um emprego formal representa proteção social, direitos garantidos e oportunidades concretas de mobilidade. Nessa perspectiva, vale ressaltar a importância da modalidade de EJA-EPT, que alinha a EJA com a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), qualificando para o mundo do trabalho.

Para Rosalina Soares, superintendente de Conhecimento da Fundação Roberto Marinho, o estudo reforça que as funções reparadora, equalizadora e qualificadora da EJA seguem válidas e urgentes. “Concluir a EJA gera resultados imediatos e concretos na vida das pessoas: abre portas para empregos formais, amplia a renda e fortalece perspectivas de futuro. Mas, diante da magnitude do desafio educacional brasileiro, apenas políticas públicas consistentes e contínuas poderão garantir que a modalidade cumpra plenamente seu papel transformador”, afirma.

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O Brasil tem 66,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais fora da escola sem concluir a educação básica. De acordo com o Censo Demográfico de 2022, 11,4 milhões são analfabetas. Embora a demanda seja grande, a oferta da EJA vem encolhendo desde 2007. No ano passado, o país teve apenas 2,4 milhões de matrículas, número em queda desde 2007, e mais de mil municípios sem oferta de turmas. Para se ter uma ideia da redução, em 2008 eram 4,9 milhões de matrículas na modalidade.

Uma das estratégias para ampliar as oportunidades é integrar a EJA à Educação Profissional e Tecnológica (EJA-EPT), prevista na Meta 10 do Plano Nacional de Educação, que estipula que 25% das matrículas sejam nessa modalidade. Mas, em 2024, o índice alcançou apenas 5,9%. Embora o número de municípios que oferecem essa integração tenha mais que dobrado nos últimos cinco anos — de 6,3% em 2019 para 13% em 2024 —, a oferta segue muito baixa no país. Ao compararmos essa trajetória de crescimento com a EPT articulada ao ensino médio regular (17,2%), observamos que os resultados estão bem distantes da estratégia nacional de crescimento.

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Segundo Alysson Portella, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, a abrangência da PNAD Contínua permite analisar a EJA sob diferentes perspectivas.

“Como economistas, olhamos para os efeitos positivos sobre o mercado de trabalho, mas também investigamos os fatores que influenciam a matrícula e a conclusão da EJA. O público é bastante diverso, e esses dois indicadores estão fortemente associados a aspectos socioeconômicos e à idade. Esses achados são fundamentais para pensar em estratégias mais adequadas para atender perfis distintos de estudantes”, afirma o pesquisador.

Entre jovens de 15 a 20 anos, a chance de evadir do ensino regular é maior do que a de migrar para a EJA. Os dados mostram que, à medida que a idade aumenta, cresce também o risco de evasão, especialmente entre aqueles com histórico de atraso escolar. Jovens de 18 a 20 anos com ensino fundamental incompleto, têm 27% de probabilidade de evadir e 12,7% de migrar para a EJA.

Já entre aqueles com o ensino médio incompleto, os índices caem para 6,4% e 1,5%, respectivamente. Outros fatores que aumentam a evasão ou migração para EJA, é ser homem, ser negro, residir em área rural, menor renda domiciliar per capita e estar trabalhando.

A pesquisa foi realizada pela Fundação Roberto Marinho e o Itaú Educação e Trabalho.

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