Um episódio de intolerância religiosa mobilizou uma escola pública de São Paulo e gerou preocupação entre pais, funcionários e especialistas em educação antirracista. Um homem acionou a polícia após descobrir que sua filha de 4 anos havia desenhado a orixá Iansã durante uma atividade pedagógica na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Antônio Bento, no bairro do Caxingui, em São Paulo.
A atividade fazia parte do currículo obrigatório da rede municipal, que inclui conteúdos de história e cultura afro-brasileira conforme as Leis 10.639/03 e 11.645/08. De acordo com a direção da escola, o desenho foi produzido a partir do livro Ciranda em Aruanda, da escritora Liu Olivina, utilizado em propostas que valorizam diversidade religiosa e cultural.

Antes de acionar a polícia, o pai da criança esteve na instituição e, segundo relatos divulgados pela Folha do Estado, chegou a rasgar um mural com trabalhos dos estudantes. No dia seguinte, quatro policiais entraram na escola após a denúncia, um deles portando uma metralhadora, o que provocou pânico entre funcionários e alunos. A diretora chegou a passar mal durante a abordagem.
Em nota, a escola reforçou que o conteúdo integra o planejamento oficial e cumpre legislação federal. A Secretaria Municipal de Educação também se manifestou, afirmando que a família foi orientada sobre o caráter pedagógico da proposta e que o ensino sobre cultura afro-brasileira é obrigatório em todas as instituições da educação básica.
A Lei 10.639/03 foi criada para combater o racismo e garantir que crianças aprendam sobre diversidade religiosa de forma respeitosa. Já a Lei 11.645/08 ampliou essa obrigatoriedade ao incluir também a história e cultura indígena.
O caso reacende o debate sobre intolerância religiosa nas escolas e a necessidade de fortalecer políticas de educação antirracista, especialmente quando ações pedagógicas acabam sendo confundidas com doutrinação ou atacadas por desinformação.









