O Ministério das Mulheres publicou, na última terça-feira (25), o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam) 2025, que coletou e analisou dados a partir de 2022, relacionados ao perfil demográfico e socioeconômico de mulheres brasileiras. O estudo mostrou que a maioria dos registros de violência a mulheres adultas – de 20 a 59 anos – eram acometidos contra pretas e pardas, sendo 60,4% das vítimas.
Já 37,5% das vítimas são mulheres brancas. As agressões foram realizadas em sua maioria por homens, 76,6% dos registros. O estudo tem o objetivo subsidiar a elaboração e implementação de políticas públicas e pesquisas voltadas para as mulheres.
O levantamento também apontou que a maioria das notificações de violência contra a mulher acontecem dentro de suas próprias residências, cerca de 71,6% dos casos. O Ministério das Mulheres ressaltou que “o ambiente doméstico, que deveria ser um espaço seguro, é, na realidade, um local de alto risco para muitas mulheres. O lar torna-se, então, um espaço de dominação e imposição de poder, onde a violência é utilizada como forma de controle sobre as mulheres”.

O relatório trouxe dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que registrou mais de 500 mil ocorrências de estupro a mulheres entre 2015 e 2024 no país. Em 2024, os registros diminuíram 1,44% em comparação ao ano anterior, totalizando 71.892 estupros, o equivalente a 196 por dia. A violência psicológica foi o tipo de violação mais registrado pelo Ligue 180, que somou 32,6% dos casos, seguida da violência física, presente em 29,7% das ocorrências.
Mulheres são maioria responsáveis pelos lares brasileiros
Além dessas considerações, o estudo demonstrou que as mulheres são a maioria da população responsável pelos lares brasileiros. De acordo com dados do PNAD Contínua, a partir de 2022 houve a prevalência de domicílios com chefes mulheres. Em 2023, 40,2 milhões de lares eram comandados por mulheres, enquanto 37,5 milhões eram por homens.
Entretanto, residências com mulheres como chefes de família eram a maioria acometida por insegurança alimentar. O PNAD Contínua registrou que 21,6 milhões de moradias se encontravam em condições de insegurança alimentar. Dessas, 59,4% eram de mulheres responsáveis, em que 20,8% apresentavam insegurança alimentar leve, 6,2% moderada e 4,6% grave.
Trabalho e abandono escolar
Segundo o relatório, a gravidez e o trabalho reprodutivo ou assalariado foram as principais causas de abandono do ensino médio. O principal motivo foi a necessidade de trabalhar, seguida da falta de interesse e a gravidez, motivo de 24,7% mulheres pretas ou pardas deixarem de estudar. Ainda que a legislação brasileira condene relação sexual com meninas de até 14 anos como estupro de vulnerável, entre o período de 2013 a 2023, mais de 232 mil meninas de até 14 anos tiveram filhos no Brasil.
Os dados obtidos demonstraram que em 2023, 17 mulheres foram submetidas ao trabalho doméstico análogo à escravidão. Dessas, 12 eram pretas ou pardas, quatro brancas e uma indígena. Oito delas tinham entre 40 e 59 anos, cinco eram idosas com mais de 60 anos, duas tinham de 20 a 39 anos e duas eram menores de idade, sendo uma criança de 10 a 14 anos e uma adolescente de 15 a 19 anos. Além desses, o Reseam coletou indicadores que demonstram as desigualdades de cor, gênero e social, entre outros recortes, que demonstram as barreiras sociais impostas às mulheres, agravadas àquelas não brancas.
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