Nego Catra é conhecido como um dos principais nomes do entretenimento adulto no Brasil. Mas ele vai muito além de todos os esteriótipos de um astro pornô. Nego Catra quebra padrões estabelecidos pela indústria pornográfica, além de trazer um olhar mais respeitoso para as mulheres. O ator, cujo seu nome artístico é referência ao cantor Mr Catra, busca desmistificar tabus relacionados à profissão, além de desenvolver atuações para televisão.
Em entrevista ao Notícia Preta, Nego Catra falou sobre projetos para o futuro, trabalhos atuais e racismo.
Foram diversos os episódios de racismo que já passou como ator de entretenimento adulto, sobretudo dentro de um olhar estigmatizado.
“Eu vou te falar bem a realidade. A gente já nasce com preconceito na sociedade que é o racismo. Agora você imagine eu nascendo, sendo preto, ainda trabalhando no entretenimento adulto, pois falar de sexo é um tabu. Então hoje eu brigo muito com essa questão de respeito ao meu corpo. Meu corpo, minhas regras e eu valorizo muito essa questão do corpo preto. Essa questão de eu não ser um símbolo sexual ou porque eu sou um cara preto”, comentou o ator.
Nascido e criado em São Paulo, Nego Catra é o nome artístico de Afonso Bispo dos Santos Junior, ele é um homem negro que desafia todos os dias diversos preconceitos por causa da sua pele e profissão. Uma pessoa que trabalha para conquistar seus sonhos, além de fazer mudanças em uma sociedade que estigmatiza a pluralidade dos desejos humanos.
Antes de ser um ator de entretenimento adulto, Afonso é um homem que faz parte da metade da população deste país. Sua trajetória e o desejo de provocar mudanças estão acima de qualquer personagem. Criar uma carreira de sucesso, ser reconhecido e se sentir bem com sua profissão ainda é um privilégio para poucos.
“Então eu acho que há essa questão que eu como um homem preto, eu como um sendo uma celebridade do entretenimento adulto e sendo um artista eu tenho que trazer isso pra não padronizar, mas sim cuidar da saúde, cuidar do bem-estar e da sua saúde de outras pessoas e da minha”, declara Afonso.
A objetificação do homem negro
Nas sociedades escravistas o homem era visto como uma máquina de reprodução. O sexo entre pessoas negras era vista como algo importante para os donos de escravos, sobretudo no aumento de descentes. Enquanto a mulher negra era um objeto, desse modo sua função era além de reprodução, mas também de desejo pelos homens brancos.
A partir disso cria a objetificação de corpos negros, sobretudo um padrão estabelecido para que eles atingiam. Nesse contexto, Nego Catra diz que já passou por episódios de racismo como ator de entretenimento adulto, sobretudo dentro de um olhar estigmatizado.
Nego Catra diz que essa questão do respeito com o corpo do homem preto é muito importante, sobretudo por causa da sociedade que vive. “É uma sociedade racista, onde a gente trabalha todos os dias para lutar contra esse preconceito”, declara o artista.
Carreira de ator
O desejo de atuar esteve presente com Nego Catra, sobretudo para fazer filmes, séries e novelas. No entanto, uma oportunidade para o entretenimento adulto apareceu, ele começou fazer testes, assim logo foi convidado para seu primeiro filme. “Aí eu falei pra eles que eu queria ser mais que um ‘porn star’. Eu queria tipo mostrar pornografia do outro lado, do lado positivo, lado verdadeiro”, comenta o ator.
O artista já passou duas graduações, embora não tenha finalizado nenhuma delas, além disso trabalhou em um grande banco do Brasil. “Eu comecei a trabalhar na área financeira. Terminei o colegial até o terceiro, fui pra faculdade. Fiz publicidade tranquei, teoria demais, aí fui ao marketing, mas tranquei também”, lembra Negro Catra.
Atualmente Nego Catra é contratado pelo grupo Globosat. Trabalha em um canal de televisão de entretenimento adulto, Sexy Hot, ele atua majoritariamente em filmes pornográficos. O ator também produz vídeos para outras plataformas, além de fazer parcerias com outras personalidades que trabalham na área.
“O pornô ele sempre foi aquela questão padronizada, né? Peituda, siliconada, bunduda, entendeu? Hoje não tem mais isso, o Sexy Hot que é da Globosat está quebrando toda essa questão de padrão. Estamos trazendo filmes mais roteirizados com histórias, respeitando mais os corpos da mulher, trazendo mais essa questão do carinho, do afeto, do prazer, do respeito”, contou o ator.
Novas oportunidades
O artista está expandindo seus horizontes de trabalho, ele fez uma recente participação em produção do Canal Brasil, no momento Nego Catra está palestrando em diversas cidades do país. Em suas conversas ele fala abertamente sobre sexualidade, racismo, machismo entre outros assuntos que possam contribuir para uma sociedade mais aberta em explorar os prazeres da vida com consciência.
“E hoje eu trago essa palestra que ela se chama “Seja Mais que um na Cama”, onde você pode ver os filmes, mas também você pode atuar da sua forma, dando prazer, brincando com a sua companheira, conversando com ela, vamos fazer aquilo, vamos fazer isso”, declara Nego Catra.
Os planos do ator é expandir essa palestra para o público periférico, para além de um bate papo sobre sexo, ele quer falar sobre assuntos como prazer masculino e feminino, Infecções Sexualmente Transmissíveis, racismo e machismo. Ao mesmo tempo que ele estreará seu próprio Talk Show. Ele será o apresentador e conversará com outros artistas do entretenimento adulto.
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Dados da indústria pornô
De acordo com Isto É, o setor pornografico (incluídas as produções em vídeo) movimentou mais de R$ 200 bilhões em 2017. Este número aumenta a cada ano, principalmente devido às novas formas de produção e consumo.
Plataformas como Onlyfans, Xvideos Red e Privacy geram milhões de reais todos os anos. No começo do isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19, o consumo de vídeos pornograficos no Brasil aumentou em 10%. Os dados foram divulgados pelo site de entretenimento adulto PornHub, tiveram como estimativa o acesso diário do site.
Os dados mais recentes levantados pelo Pornhub mostram que as mulheres representam um terço dos usuários que visitam a plataforma. Enquanto os homens ainda são maioria, principalmente héteros. Assim, esses números evidenciam que esse setor cresce, ao mesmo tempo que evolui para públicos que estavam distantes dele.