Ao todo, a parlamentar obteve quase 50 mil votos na sua reeleição para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro
Terminadas as eleições municipais de 2024, os brasileiros elegeram 56.818 vereadores. Dentre eles, Tainá de Paula (PT) se destacou como a mulher mais votada no Estado do Rio de Janeiro e a 25ª parlamentar no país, somando 49.986 votos na Cidade Maravilhosa.
Em uma conversa exclusiva com o Notícia Preta, Tainá falou sobre o papel do campo progressista no cenário atual e chamou a atenção para a perda de espaço político em comparação às últimas eleições. Além disso, ela também falou de carnaval, sustentabilidade e da importância de acreditar nas mulheres na política, principalmente as negras.
Segundo ela, a esquerda não teve um bom resultado no processo eleitoral em 2024 e, de certa forma, está estagnada. Ainda de acordo com a parlamentar, do ponto de vista da expansão, a esquerda manteve a média das prefeituras, tanto em 2016 quanto 2020, e agora em 2024, longe do resultado que obteve em 2012 e 2014.
“De qualquer maneira, é fundamental a gente entender que existe um perfil do eleitorado que busca candidatos progressistas no espectro das mulheres e das mulheres negras, ou seja, as mulheres negras representam um futuro político, uma ideia de renovação política que a gente precisa observar com atenção”, afirma a vereadora.
Um levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revela que apenas 6,24% das candidatas negras foram eleitas. Em números absolutos, as candidaturas de mulheres negras em todo Brasil somavam 80 mil e 4.993 conseguiram uma cadeira nas Câmaras Municipais. Ainda assim, Tainá acredita que a lisura das mulheres negras faz com que elas tenham mais apelo social num futuro não muito distante.
“É interessante que elas furam a bolha do poder econômico dos partidos. Mesmo com acesso ao fundo eleitoral, ao tempo de televisão, as mulheres negras continuam sub-representadas devido a outras estratégias políticas que elas não têm interesse em acessar, como a compra de votos, que estão, normalmente, concentrados em pessoas brancas”, analisa Tainá.
“As nossas companheiras têm ideia de ser mais militantes, mais enraizadas nos seus territórios, com mais estratégias de comunicação, e vem se colocando como um importante objeto de expansão do fazer político e da estratégia da esquerda”, acrescenta.
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Os jovens e o mercado de trabalho
No quarto trimestre de 2023, 33,7% dos trabalhadores ocupados no Rio de Janeiro eram informais, de acordo com um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Em sua maioria, pessoas negras e ambulantes de todos os tipos, como vendedores de bolo de pote, de quentinhas, etc. Neste caso, Tainá reforça que o processo de precarização do trabalhador e de inserção no mercado de trabalho impacta diretamente as pessoas negras e periféricas.
“A desescolarização, o aumento do índice de jovens que não tem acesso ao trabalho e ao estudo são muito maiores quando a gente fala da população negra, da população favelada e periférica. Isso nos dá um recorte por sermos maioria nesses índices e maioria nos dados da precarização do trabalho e, obviamente, nos trabalhos informais, intermitentes e nos de relação trabalhista precária”, aponta.
Essa situação, segundo ela, coloca um desafio social que é como se reinsere a massa trabalhadora negra no processo de criação do mercado de trabalho, que não coloque pessoas negras apenas na base da pirâmide, dos trabalhadores a serem descartados.
“Qualquer fragilidade econômica e a gente precisa, cada vez mais, incentivar que esses trabalhadores precarizados se organizem e se estabeleçam em sindicatos e organizações funcionais e organizações de trabalhadores. Eu vejo com muito bons olhos o movimento dos trabalhadores dos aplicativos e o movimento VAT – Vida Além do Trabalho – que questiona as antigas escalas laborais, mas também refletem sobre a qualidade de vida do trabalhador precarizado, que é, majoritariamente, favelado”, sugere a vereadora mais votada no Rio.
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Carnaval
A cidade do Rio de Janeiro é conhecida internacionalmente pelas suas paisagens, não à toa é apelidada de “Cidade Maravilhosa”. Mas também pelo Carnaval, um dos maiores espetáculos da Terra. Durante o Carnaval de 2024, a capital fluminense teve uma movimentação econômica de mais de R$5 bilhões, com a circulação de mais de oito milhões de pessoas, segundo a Riotur. No entanto, Tainá de Paula ainda vê alguns gargalos no Carnaval carioca como o distanciamento das escolas de samba da região central do Rio, facilitando o acesso dos integrantes às suas agremiações.
“Eu sou defensora que a gente tenha a maioria dos barracões no centro do Rio, para que a gente utilize tanto para reviver centro como espaços que fomentem e promovam o Carnaval com centros de informação. É um absurdo para o Rio de Janeiro não ter, por exemplo, uma universidade livre do Carnaval, e não só na perspectiva do ensino superior, mas do ensino médio técnico. É muito importante a gente estimular a cadeia produtiva do Carnaval, entendendo que é um dos maiores ativos na discussão da imagem da construção da cidade”, afirma.
Ela ressalta ainda que o Carnaval precisa ser um polo de construção e de proteção da cultura de produção de conhecimento, mas, principalmente, de formação dos futuros profissionais, que retroalimentam a própria cadeia produtiva.
“Nessa intenção, é fundamental que a gente garanta fomento direto da gestão pública da municipal e da estadual para as escolas mirins, que são a porta de entrada da discussão do Carnaval e, claro, para as escolas dos outros grupos que não só o Especial”, analisa.
Além de vereadora reeleita, Tainá de Paula também é arquiteta e urbanista e, durante a gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD), também assumiu a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima da Cidade do Rio de Janeiro. Em sua passagem pela pasta, a parlamentar desenvolveu projetos voltados para a sustentabilidade e combate às mudanças climáticas e, desta forma, ela pensa que “é necessária a formação dos componentes das escolas, investimentos em pesquisas de sustentabilidade do Carnaval, reaproveitamento, reciclagem e reuso de materiais”.
No Carnaval deste ano, a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira recebeu o certificado “Carbono Zero” após a compensação de 180 toneladas de carbono, trazendo um impacto positivo para o meio ambiente. Já o Império Serrano, escola da Zona Norte carioca, promoveu, este ano, o primeiro Ensaio Técnico Carbono Zero da história do Carnaval. O Reizinho de Madureira compensou as emissões de CO2 geradas pelo transporte dos participantes e pelo uso de energia elétrica durante o evento.
“É algo determinante pra gente ter cada vez mais um Carnaval de zero impacto ambiental, é muito fundamental dar a notícia da neutralização das exibições de gases de efeito estufa no Carnaval e que a gente garanta uma segurança econômica do integrante do Carnaval, do um sujeito que constrói o Carnaval em todas as épocas do ano”, finaliza.