Por Iane Pessoa*
A ONU construiu 16 objetivos globais sobre o desenvolvimento sustentável da população mundial para serem atingidos até 2030, sendo um deles a equidade de gênero (ODS 5), que passa pelo empoderamento. Entretanto, diante do cenário de recuperação econômica, após danos causados pela COVID-19, serão necessários 136 anos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres, e o principal grupo afetado economicamente por essa desigualdade é o de mulheres negras.
Dessa forma, o empoderamento econômico de mulheres pretas e pardas deve ser um dos principais temas quando tratamos sobre equidade de gênero. É necessário entender o peso que a interseccionalidade de raça tem sobre uma mulher na luta contra o machismo e racismo, simultaneamente. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) de 2020 mostram que o rendimento médio do homem branco em relação ao da mulher negra chega a ser 120% maior. Além disso, o rendimento médio mensal das mulheres negras é 35,16% menor do que a média do país.
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Diversas empresas/organizações já trabalham, anualmente, com uma frente social para desenvolver iniciativas que promovam estratégias e ações para a equidade entre gêneros. Contudo, existe a ausência de iniciativas interseccionais que pensem as mulheres além do gênero, mas que também contemplem a raça, classe, sexualidade e identidade de gênero. Hoje, mulheres negras são somente 2,6% dos cargos de liderança nas grandes empresas brasileiras; são apenas 2,36% das parlamentares no Congresso e representam somente 7,4% das campanhas publicitárias, segundo o estudo Diversidade, Representatividade & Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós, de 2021.
Para alcançar e reter mulheres negras como talentos é preciso que as empresas invistam verdadeiramente em equidade de gênero para todas as mulheres. O primeiro passo é o treinamento da equipe de recrutamento e seleção para a desconstrução de vieses inconscientes de raça e gênero, juntamente com um letramento dos líderes da empresa sobre a importância de uma liderança inclusiva e da mudança de mindset sobre a existência de um “candidato ideal” para sua equipe.
Além disso, a criação de processos seletivos com vagas afirmativas para mulheres negras; treinamentos sobre como implementar um processo seletivo mais inclusivo e criação de metas de contratação e promoção de mulheres negras para a área de Recursos Humanos e para áreas de liderança são algumas ações que colocam as empresas como aliadas nesta luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Afinal, equidade não é só ter a mesma proporção de homens e mulheres na empresa, mas garantir que o homem branco e a mulher negra possam ocupar a mesma posição e receber o mesmo salário.
É fundamental garantir o acesso de mulheres negras à educação, à saúde e à empregabilidade e, principalmente, à oportunidade para que esse empoderamento econômico aconteça. Nomes como Adriana Barbosa, CEO da PretaHub e Fundadora da Feira Preta; Rachel Maia, primeira mulher negra a se destacar no país como CEO da Pandora e Lacoste; e Aline Torres, Secretária de Cultura da cidade de São Paulo, são uma inspiração do sucesso econômico que uma mulher preta pode atingir.
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O empoderamento econômico de mulheres negras deve ser prioritário, pois reflete diretamente no consumo e no crescimento da economia. O que falta, na verdade, é o reconhecimento desse potencial, seja pelo talento ou pelo crescimento econômico gerado por mais mulheres negras com renda para consumir e movimentar a economia nacional. É uma conta simples de fazer: com mais mulheres negras empoderadas economicamente, melhores indicadores ESG, maior potencial de crescimento econômico, maior consumo, maior movimentação da economia. Não existem perdas nesta conta, mas sabemos que não é um caminho fácil e rápido de se trilhar; o primeiro passo é começar.
*Ianne Pessoa é especialista em D&I da Condurú Consultoria, ativista social, defensora dos Direitos Humanos e graduada em Serviço Social.
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