Mostra Entremoveres reúne mais de trinta artistas negras no Museu da Abolição do Recife

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Artistas participantes da Entremoveres seguram placas com os nomes das demais artistas desta que é a mostra Trovoa Nacional em Pernambuco. Foto: Abiniel Nascimento/Divulgação

A ocupação artística Entremoveres apresentará trabalhos de mais de 30 artistas negras, entre mulheres (travestis, trans e cis) e pessoas não-binárias, a partir desde sábado (4), no Museu da Abolição do Recife. O evento faz parte da articulação pernambucana a Mostra Nacional Trovoa, que neste ano acontece em sete estados do país com o objetivo de apresentar trabalhos artísticos e atividades formativa, além da pluralidade de linguagens, de discursos, de pesquisas e de mídias. A visitação é gratuita e algumas oficinas abertas ao público. A exposição fica em cartaz até o dia 4 de agosto.

Artistas participantes da Entremoveres seguram placas com os nomes das demais artistas desta que é a mostra Trovoa Nacional em Pernambuco. Foto: Abiniel Nascimento/Divulgação

No mesmo dia da abertura, haverá também uma roda de conversa no auditório do Museu da Abolição com as participantes, que irão falar sobre o processo individual e coletivo de construção da Entremoveres, que tem levantado diversas discussões éticas e estéticas, presenciais e virtuais. A mostra conta, atualmente, com trabalhos das artistas Aline Sales, Amanda Souza, Ana Lira, Anne Souza, Ariana Nuala, Benedita Arcoverde, Biarritzzz, Deba Tacana, Erzulie Timboiá, Gi Vatroi, Ianah, Juma Gitirana, Kalor, Karla Fagundes, Kildery Iara, Letícia Barros, Lia Letícia, Liz Santos, Magú, Mariana de Matos, Mitsy Queiroz, Nathê Ferreira, Nena Callejera, Polly Souza, Priscilla Buhr, Priscila Ferraz, Priscilla Melo, Preta Afoita, Rebeca Gondim e Mun-Ha. Serão apresentados desenhos, gravuras, vídeo, instalação, livro de artista, lambe-lambe, fotografia, performance, entre outras expressões e linguagens que podem ser acrescentadas no decorrer da mostra.

“A iniciativa partiu de uma residência do Coletivo Trovoa no CMAHO, no Rio. Elas moveram uma articulação para expandir estes processos em outros locais do país. O movimento acabou criando uma rede-levante das potências e circuitos criativos de artistas não-brancas. Assim, em diversos estados, os grupos auto-organizados vão promover ações, articulações e parcerias com o intuito de reverberar as questões latentes nestas discussões”, comentou Ana Lira, fotógrafa e artista visual negra.

A ocupação artística foi desenvolvida pelas próprias artistas ao longo de três meses de ativação do Museu da Abolição, que é um equipamento cultural dirigido historicamente por pessoas brancas e que agora vem sendo pensado a partir da perspectiva das pessoas negras.

“Se trata de um resultado desse processo artístico tão lindo e inclusivo, fruto de uma dialética poderosa e muita efervescência criativa de 30 ‘mulé preta’. Toda essa movimentação possui bastante sintonia com a missão e os objetivos da instituição, no sentido de fomentar processos de co-criação, e ser um espaço para conectar-se e  compartilhar a história, memória, manifestações culturais e artísticas do povo negro, dando uma atenção mais que especial as temáticas do feminino”, declara a museóloga Daiane Carvalho, que é a diretoria interina do Museu da Abolição.

De acordo com a articuladora do Trovoa em Pernambuco, Ariana Nuala, a mostra Entremoveres é muito mais que uma apresentação de trabalhos coletivos, trata-se de uma quebra e de uma inserção de novas perspectivas, narrativas e trocas, para um circuito artístico sem espaço para um eixo plural, formatado desde a colonização.

“A grandeza está no encontro entre as artistas, a fissura/potência que isso causa, a possibilidade das artistas refletirem juntas sobre seus processos de produção da imagem, se reconhecerem no discurso umas das outras e também criar perspectivas sobre narrativas instauradas. É necessário entrar com o corpo para tensionar ambientes demarcados na história colonial, mas mais potencializar o que está fora deste, o que não é dito como centro”, afirmou.

Não se trata de uma discussão que ocorre do dia para noite, já que o movimento conta com artistas, não-artistas, curadoras, pesquisadoras, educadoras, produtoras e comunicadoras sociais independentes que acumulam em sua trajetória profissional uma série de ações e posicionamentos anti-racistas no circuito artístico nacional, sobretudo em Pernambuco, estado que ainda tem muito o que se descolonizar em suas mídias e instituições excludentes. Ainda está em voga a apropriação cultural e a perpetuação de discursos hegemônicos não-condizentes com as reais necessidades da maioria da população aqui vivente, composta majoritariamente por pessoas não-brancas e empobrecidas, residentes nas periferias e no interior.

Levando em consideração a multiplicidade de corpos e também de realidades, a intenção é que, após a abertura da exposição, haja também atividades formativas visando a capacitação e a profissionalização das artistas que, devido aos gargalos do racismo e preconceito de classe, gênero e sexualidade, se encontram ainda à margem não somente dos recursos financeiros públicos e privados, além de também estarem ausentes de ambientes acadêmicos.

Mediante a heterogeneidade dessas pessoas e vivências, a intenção é implementar no Museu da Abolição, além da exposição que ficará em cartaz durante três meses com algumas intervenções previstas no ambiente interno e externo da instituição, uma espécie de laboratório e ateliê coletivo que possa fomentar as práticas artísticas, curatoriais de pesquisa e comunicação a partir da troca de saberes e fazeres entre mulheres negras, originárias e não-brancas.

Programação no Museu da Abolição

Grupo de Estudos em Arte e Decolonialidade com Rodrigo Lopes, bordadeiro, designer e coordenador do Laboratório de Arte Contemporânea (PPGArtes – UFC).
Dias 24 e 25 de maio.

Entre-Frestas – Oficina de Processos Criativos com a artista Ana Lira
Dias: 8 e 15 de junho. 
Horário: 9h às 17h)

Bordado livre: Autorretrato e Narrativas de Si, com Liz Santos
Dia: 17 de julho
Horário: 15h

SERVIÇO:
ENTREMOVERES – Mostra Trovoa em Pernambuco
Endereço: Museu da Abolição (R. Benfica, 1150, Madalena).
Abertura no dia 4 de maio, às 16h e, visitação até 4 de agosto, no Museu da Abolição.
Visitação de segunda à sexta, das 9h às 17h, e aos sábados das 13h às 17h.
Informações: (81) 991387984

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