Mostra de cinema gratuita “Marcas Afrodiaspóricas” estreia dia 11 de abril no Rio

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Promovida pela Quiprocó Filmes e pela Fundação Casa de Rui Barbosa, a mostra apresentará um doc por mês até julho, além de bate-papo com cineastas e pesquisadores

Investigar o processo diaspórico e a ligação histórica entre Brasil e África por meio de filmes, pesquisas e conversas. Esse é o mote da mostra cinematográfica “Marcas Afrodiaspóricas: História, Cinema e Memória”, promovida pela Quiprocó Filmes e pela Fundação Casa de Rui Barbosa a partir de 11 de abril. A curadoria é dos historiadores Eduardo Possidonio e Ivana Stolze Lima, especialistas em história da África e das heranças africanas no Brasil.

O evento vai promover sessões de cinema gratuitas, seguidas por conversas críticas com cineastas, pesquisadores e convidados, para abordar temas como os vínculos entre Brasil e África, o patrimônio material e imaterial gerado pelo processo afrodiaspórico e sua preservação, a luta dos diferentes povos negros e afrodescendentes por permanência e memória, entre outros temas.

Mestre Valdenor do longa “Essa Gunga Veio de Lá” da TV USP /Foto: Reprodução

A primeira sessão será no dia 11 de abril, às 18h, com o filme “Essa Gunga Veio de Lá – Tradição Africana nos Sinos do Brasil”, de Tabita Said, produzido pela TV USP, e baseado na pesquisa de doutorado em História Social do historiador e etnomusicólogo Rafael Galante. Após a sessão, Rafael participa de um bate-papo com o curador Eduardo Possidonio e a mediação será de Ivana Stolze Lima.

As sessões acontecerão uma vez por mês, até julho, e ainda serão exibidos os filmes: “A Rainha Nzinga Chegou”, de Júnia Torres e Isabel Casimira (9 de maio); “Atlântico Negro: Na Rota dos Orixás”, de Renato Barbieri (13 de junho); e “Pedra da Memória: Diálogos Brasil Benim”, de Renata Amaral (4 de julho). A  mostra marca também a retomada de eventos na Casa de Rui Barbosa.

No país em que vivemos, somos provocados a refletir diariamente sobre as nossas relações com os povos africanos. Os documentários exibidos são fruto de pesquisas aprofundadas, apresentando práticas comunitárias e culturais relacionadas ao processo diaspórico e é um convite à reflexão por meio da linguagem do cinema”, afirma Dora Motta, coordenadora de produção da Quiprocó Filmes.

Filme aborda os negros que trabalhavam como sineiros no Brasil

Essa gunga veio de lá – tradição africana nos sinos do Brasil”, de Tabita Said, é um filme baseado na pesquisa de doutorado de Rafael Galante, e aborda o universo urbano do Oitocentos, onde africanos e seus descendentes, escravizados, livres e libertos, atuavam com desenvoltura como sineiros nas principais igrejas das cidades brasileiras. O documentário fala ainda sobre a capoeira que, no século XIX, era ligada ao universo espiritual afrobrasileiro, e tinha como sua iniciação ser sineiro.

Vindos da África Central-Ocidental e compreendendo diferentes povos da faixa atlântica do continente, esses africanos trouxeram consigo um conhecimento antigo de uso e manipulação de sinos. Muito mais do que isso: um complexo sistema de línguas tonais, seus ouvidos estavam treinados para escutar e mandar mensagens por meio de instrumentos como os agogôs, utilizados também em rituais religiosos.

Quando os negros chegam ao Brasil, o instrumento amplamente utilizado nas igrejas católicas passa a receber influências afro, amparadas pela tradição do instrumento no continente africano, dando novos contornos à sua utilização. O documentário relata que os sineiros impuseram novas formas de tocar o sino, e em igrejas com vários era possível apresentar rítmicas apuradas das manifestações afrobrasileiras existentes. Em algumas inclusive, o toque dos sinos chegou a ser usado para promover encontros não católicos.

O documentário recebeu o 1º lugar do Prêmio Sílvio Romero de Monografias de Folclore e Cultura Popular do Iphan em 2023.

Projeto une cinema, história, memória e divulgação científica

Mais do que uma mostra de cinema, “Marcas Afrodiaspóricas: História, Cinema e Memória” é um projeto de divulgação científica e formação crítica para o conhecimento dos vínculos entre Brasil e África e realizado através da Lei Paulo Gustavo. 

Muito além do trabalho forçado, mulheres, homens e crianças africanas trouxeram conhecimentos, técnicas e experiências comunitárias que emprestam a uma história de violência e dor, uma possibilidade de sobrevivência, resistência e criação cultural que importa a todos nós”, explica a curadora Ivana Stolze.

Nesta edição, a curadoria quis apresentar filmes e pesquisas focadas na relação com a África Central (a região comumente chamada Congo-Angola) e com o Golfo do Benim na África Ocidental. Além da análise dos temas e conteúdos apresentados nos documentários, o objetivo é também aprofundar a discussão sobre o processo criativo dos filmes, questionando as fundamentações teóricas que guiam as abordagens dos cineastas, por meio de falas de pesquisadores que também tratam dos temas, assim como os conceitos que influenciam suas escolhas e seleções.

As muitas dimensões das travessias no mundo atlântico apresentadas nos documentários serão ponto de partida para uma reflexão e debate públicos que contribuam para perceber e emprestar visibilidade e valor às marcas afrodiaspóricas do Brasil atual”, conclui Eduardo Possidonio.

Serviço:

Mostra de cinema “Marcas Afrodiaspóricas: História, Cinema e Memória”

Data: 11 de abril de 2024, quinta-feira

Horário: 18h

Local: Auditório da Casa de Rui Barbosa – R. São Clemente, 134 – Botafogo.

Grátis. Livre.

Sobre a Quiprocó Filmes:

A Quiprocó Filmes é uma produtora audiovisual independente, sediada no Rio de Janeiro, que busca provocar mudanças através de um olhar inquieto. Criamos imagens atentas às histórias, emoções e afetos, a partir de diferentes vozes, transformando a maneira que as pessoas vêem suas próprias vidas e os diferentes elementos da nossa cultura. Criamos conteúdo para Cinema, TV e streaming. Produzimos conteúdo publicitário e institucional para organizações e empresas. Realizamos oficinas audiovisuais em parceria com instituições da sociedade civil.

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