Bira Presidente, fundador do grupo Fundo de Quintal e do bloco Cacique de Ramos, morreu neste sábado (14), aos 84 anos. Com carisma, talento e visão cultural, ele não apenas marcou a história do samba, como também foi responsável por revolucionar a sonoridade e a estrutura das rodas de samba no Brasil.
Nascido no subúrbio do Rio de Janeiro, Ubiraci Rodrigues da Costa, mais conhecido como Bira Presidente, começou sua trajetória no samba nos anos 1970, quando liderava as rodas no tradicional bloco Cacique de Ramos, na Zona Norte carioca.

Mais do que um bloco carnavalesco, o Cacique funcionava como um espaço de resistência, celebração da cultura negra e formação de gerações de sambistas. Foi ali que Bira percebeu o potencial dos encontros informais que aconteciam nos fundos das casas, com músicos talentosos, descontraídos e extremamente criativos.
Com visão inovadora, Bira teve a ideia de transformar aquela roda de samba em um grupo profissional. A proposta era simples, porém revolucionária: levar a essência do samba de quintal para os palcos, com uma sonoridade mais leve, cadenciada e descontraída, mas sem perder a raiz.
Fundo de Quintal: a criação de um novo jeito de fazer samba
Em 1978, nascia oficialmente o Fundo de Quintal, com uma formação que entrou para a história: Bira Presidente, Almir Guineto, Jorge Aragão, Neoci, Ubirany, Sereno e Sombrinha.
O grupo foi pioneiro ao incorporar instrumentos como o tantã, o repique de mão e o banjo de cordas de aço, que até então eram pouco utilizados nas gravações e apresentações formais de samba. Essa inovação sonora mudou o jeito de se fazer e de se ouvir samba no Brasil.
O Fundo de Quintal rapidamente se tornou referência, influenciando diretamente artistas como Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Dudu Nobre, Revelação e praticamente toda uma geração de sambistas que vieram depois.
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Bira Presidente: mais do que músico, um articulador cultural
Além de sua habilidade no pandeiro, Bira era a alma das apresentações. Com seu sorriso largo, seus bordões e sua maneira carismática de conduzir o público, ele não era apenas um músico: era um verdadeiro mestre de cerimônias e defensor da cultura popular.
Mesmo após sair da formação principal do Fundo de Quintal, Bira nunca se afastou do grupo, participando de apresentações especiais e mantendo viva a roda de samba do Cacique de Ramos. Sua presença era sinônimo de alegria, tradição e resistência cultural.
Legado eterno para o samba e para a cultura negra
A morte de Bira Presidente representa uma perda imensurável para o samba e para a cultura negra brasileira. Sua trajetória não foi apenas musical, mas também política, social e cultural. Ao transformar as rodas de samba em espaços de afirmação, Bira contribuiu para fortalecer a identidade negra e periférica no Brasil.
Ele deixa um legado que vai muito além da música. Deixa um jeito de viver, de celebrar, de resistir e de fazer do samba uma ferramenta de união, alegria e transformação social.
Bira se vai, mas sua voz, sua batida no pandeiro e sua história seguem eternamente vivos em cada roda de samba, em cada canto do Brasil.