“Sadismo branco: A mídia usa o que alegra o coração do racista” afirma atriz Rubia Bernardes

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As produções que sempre estão em alta nas plataformas de streamings são majoritariamente ocupados por elencos brancos ou em papéis principais. E, atualmente, as tentativas de racializar esses meios são pautas discutidas entre produtores e grupos politizados para que, assim, haja inclusão e também a tentativa de mudar o conceito de histórias que são produzidas na mídia, principalmente nos EUA.

Em um contexto de filme ou série, a característica é importante para o personagem e para definir a história em que fazem parte. A preservação dessas histórias estão contidas o reconhecimento. Descaracterização é o ato de ir contra, e, nesse caso retira a particularidade de um personagem que também está inserido culturalmente em ambientes regionalizados, logo, retirando também a identidade.

Foto: Evandro Macedo

A atriz e cineasta Rubia Bernardes comenta sobre a descaracterização de personagens negros nos elencos, após a série documental “Rainhas Africanas” escalar uma atriz negra para interpretar Cléopatra, em sua 2ª temporada, e ser duramente criticada pelo público.

“É mais tentativa de manutenção de uma não representação na cena”, analisa Rubia. A atriz ainda ressalta sobre a importância da representatividade nas telas mas também por trás delas. “Os bastidores precisam ter roteirista, diretores, figurinistas e maquiadores negros”, comenta.

Ainda sobre exemplos de representatividade, a novela “Vai na Fé” produzida pela TV Globo, se destaca pela trama e pelos personagens, o que vem rendendo grande audiência e comentários positivos a seu respeito.

Rubia destaca a preservação do contexto cultural e, como produtora, ela enxerga o cuidado que a história tem em fazer os enredos. Para isso, segundo ela, há a perspectiva de um roteirista que também é negro, Pedro Alvarenga.

Colorismo e suas camadas

O colorismo cria tonalidades de pele como se fosse uma classificação de lápis de cor, em tons claros e mais escuros. Na contemporaneidade, esse tipo de classificação pode facilitar a vida de quem tem a pele mais clara e dificultar o dia a dia de pessoas mais retintas. Para Rubia, a pauta do colorismo está diretamente ligada à indústria do entretenimento, “eles querem lucrar, mas não deixam a gente ser protagonistas”.

Um exemplo do colorismo e interesse midiático é a animação da Disney, “Lilo & Stitch” que ganhará um filme live-action, mas a escolha dos protagonistas levanta uma série de debates por não se parecerem totalmente com os personagens do filme – Havaianos, com tons de pele mais escuro originalmente – sendo papéis ocupados também por uma havaiana de tom mais claro.

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Para o diretor de cinema Sérgio Pires há um embranquecimento dos personagens na tentativa de enriquecer, mesmo com histórias que não sejam seus lugares de fala. “Para ele, “É importante, sim, elevar nossa pele, nossa cultura”, e, para além disso “ver nossas subjetividades nas histórias” complementa.

Montagem Onze, com Rubia Bernardes – Foto: Dardania

O produtor ainda diz que as produções live-action são apenas uma recente linha de longos projetos de entretenimento que privilegia a pele clara para histórias racializadas. “Os corpos em cena as vezes estão em uma série de marcadores, marcadores embranquecidos ou ‘do que somos nós pela visão da branquitude”, afirma.

Ainda assim, em discussão, Sérgio comenta sobre a importância de se reconhecer racialmente e construir uma identidade. “As vezes reproduzimos a branquitude na qual nem nos encaixamos”, complementa.

Autodeclaração

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em uma pesquisa de cor e raça com base na autodeclaração e com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), em 2021, 43,0% dos brasileiros se declararam como brancos, 47,0% como pardos e 9,1% como pretos.

O somatório de pessoas pardas e pretas é considerado o total de pessoas autodeclaradas negras no Brasil, de acordo com a definição do próprio IBGE.

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