O medo da violência tem provocado mudanças significativas no cotidiano da população brasileira. É o que revela pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (14), segundo a qual 72% dos brasileiros afirmam ter alterado algum hábito da rotina nos últimos 12 meses por receio da criminalidade.
O levantamento ouviu 2.002 pessoas com 16 anos ou mais, em 113 municípios de todas as regiões do país, entre os dias 2 e 4 de dezembro. As entrevistas foram presenciais, com margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.

Entre as principais mudanças relatadas, a mais frequente foi evitar o uso do celular em vias públicas, prática adotada por 56% dos entrevistados. Outros 36% afirmaram ter alterado o caminho para o trabalho ou para o local de estudo, como forma de reduzir riscos no deslocamento diário. Já 31% disseram ter deixado de usar alianças, correntes ou outros objetos visíveis, por medo de assaltos.
A pesquisa também mostra que 26% deixaram de sair de casa em algum momento, enquanto 27% afirmaram ter evitado atividades que lhes dão prazer, como encontros sociais, eventos culturais ou lazer noturno. O impacto atinge ainda a mobilidade urbana: 21% disseram ter deixado de usar transporte coletivo, um dado que dialoga diretamente com a realidade das periferias e grandes centros urbanos, onde ônibus e trens costumam ser alvos recorrentes de violência.
Mudanças associadas a condições econômicas também aparecem no levantamento. 17% instalaram insulfilm nos carros e 2% afirmaram ter blindado o veículo, alternativas restritas a quem dispõe de maior renda. Especialistas apontam que essas estratégias evidenciam desigualdades sociais, já que a maior parte da população, especialmente pessoas negras, periféricas e de baixa renda, não tem acesso a mecanismos privados de proteção e acaba recorrendo à restrição de circulação como principal forma de defesa.
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Embora o Datafolha não tenha divulgado recortes raciais nesta edição, estudos anteriores indicam que o medo da violência tende a ser mais intenso entre pessoas negras, que também figuram como as maiores vítimas de homicídios, abordagens policiais violentas e insegurança urbana no país. Esse contexto faz com que o impacto da violência extrapole os índices criminais e se manifeste na forma como a população ocupa o espaço público.
Os dados reforçam que a violência no Brasil não afeta apenas a segurança física, mas também o direito à cidade, à mobilidade, ao lazer e à convivência social, produzindo efeitos diretos sobre a saúde mental e a qualidade de vida da população.









