Juarez Souza e outro homem, que não quis se identificar, fugiram de uma fazenda em São Sebastião, no Distrito Federal, após realizarem trabalho e condição análoga à escravidão. Desde maio deste ano eles dormiam em um curral, trabalhavam cerca de 12 horas por dia e não recebiam pagamento.
Juarez, natural do interior da Bahia, conseguiu fugir da Zona Rural e chegou ao centro da cidade após caminhar por 5 horas. Ele contou em entrevista ao G1, que uma senhora deu vinte reais e com esse dinheiro comprou uma passagem para Brasília, onde foi até a Superintendência Regional do Trabalho e denunciou o empresário Igor Emir, proprietário da fazenda. “A casa dele era boa, muito chique, televisão. Me senti como um escravo por que ele coloca a gente no lugar daquele, dormir dentro de um cocho de gado, com muriçoca, morcego, aranha-caranguejeira e escorpião. Enquanto ele estava dormindo numa cama boa, nós estávamos sofrendo“, disse.
Ele viajou a Brasília no início do ano para tratar uma hérnia e aguardou por dias a cirurgia na rede pública de saúde, na cidade satélite de Planaltina. Devido a demora para o procedimento, precisou sair do hospital e passou um tempo nas ruas procurando qualquer serviço, foi quando uma pessoa de nome Manoel ofereceu emprego para cortar e transportar eucaliptos na fazenda Barra da Cachoeirinha, em São Sebastião. “Ele fez uma prosa muito bonita, era uma pessoa muito elegante. Quando cheguei lá, eu achei estranho“, conta Souza.
Leia também: 80 milhões de brasileiros vivem com um salário mínimo, aponta estudo
Ao chegar na fazenda que iria trabalhar, o homem viu a situação ser totalmente diferente do esperado, no início, nem colchão eles tinham. Segundo ele, o banho era gelado e a água era da torneira e não havia banheiro, além de passar frio na onda de baixas temperaturas que houve em Brasília no mês de maio e que a outra vítima só tinha uma “cobertinha“. Juarez falou também sobre a situação totalmente diferente que o responsável do local vivia na casa da frente, com televisão e uma cozinha muito chique.
“Nesse momento, eu me senti como um escravo, porque colocar a gente em um lugar daquele. Dormir dentro de um cocho de gado, muriçoca mordendo, morcego dentro do galpão, na beira de uma mata. Era aranha, escorpião. Enquanto ele estava dormindo em uma cama boa, nós estávamos sofrendo”, informa Juarez.
No dia da fuga, ele falou com o homem que queria ir embora e solicitou pagamento pelo trabalho feito, mas o responsável pela contratação se negou a pagar pelo serviço, e iria ressarcir os trabalhadores somente em 45 dias. Após a fugir da fazenda, Juarez retornou com a Polícia Federal para resgatar o outro homem que também estava em situação análoga a escravidão.
Juarez e o outro trabalhador receberam o pagamento do salário e mais R$ 10 mil por danos coletivos, eles também têm direito a receber três parcelas de seguro-desemprego especial para trabalhadores resgatados de situação análoga à escravidão, no valor de um salário mínimo.
Em nota, a defesa dos donos do local afirma que “um terceiro foi devidamente contratado para o corte da madeira, tanto os proprietários e seu gerente não possuíam o conhecimento da situação degradante dos trabalhadores“.