De acordo com um boletim do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), em parceria com o Instituto Çarê, pessoas negras têm mais chances de sofrer acidentes ou incidentes adversos durante procedimentos médicos, no Brasil. Os dados do Boletim Saúde da População Negra, colhidos entre 2010 e 2021, foram divulgados nesta segunda-feira (23).
O levantamento feito pelo IEPS e o Instituto Çarê, iniciativa voltada para informações sobre a saúde da população negra, que no período avaliado foram registradas 66.496 internações por conta de “eventos adversos”. Esses eventos podem ser desde cortes acidentais e limpeza insuficiente de uma ferida, até objetos estranhos deixados no corpo do paciente durante procedimentos médicos, e erros de dosagem.
Pela média, foram registrados 15 casos por dia. Segundo o boletim Çarê-IEPS, a principal diferença entre acidentes e incidentes é que o primeiro são eventos que ocasionados durante a prestação de cuidados, enquanto o segundo envolve situações relacionadas ao uso de dispositivos médicos em procedimentos diagnósticos, com aparelhos específicos de cada especialidade médica.
A pesquisa, que usou como base os dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH), mostra que, entre 2012 e 2021, no Norte e no Nordeste, as chances de internação por essas mesmas causas, foram seis vezes maiores entre pessoas negras. Já no Centro-Oeste, três vezes maiores, e no Sudeste 65% maior. O Sul do país foi a única região que registrou uma tendência invertida. Lá, pessoas brancas apresentam 38% mais chances de internação por acidentes e incidentes adversos.
Para Rony Coelho, pesquisador do IEPS e integrante da Catédra Çarê-IEPS, os dados demonstram como a população negra está mais exposta a situações de negligência ou erro médico. “Os dados confirmam, mais uma vez, os impactos das desigualdades raciais na saúde da população negra; que mesmo quando conseguem atendimento médico estão mais expostas a situações de risco, como cortes acidentais, perfurações ou, erros de dosagem e outras adversidades relacionadas à prestação de cuidados que podem ocorrer durante o período de internação”, explica Coelho.
Para melhorar a situação, o boletim destaca a importância de aplicar a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN).
“A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) (Brasil 2009), por exemplo, oferece diretrizes valiosas para abordar as disparidades, incluindo a promoção do acesso equitativo a serviços de saúde, o combate ao racismo estrutural e a participação ativa das comunidades afetadas no desenvolvimento de políticas de saúde“, diz o levantamento.
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