Licínio Januário aborda o silêncio e a dor de quem sofre violência sexual em seu primeiro curta-metragem

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Estrelado por Sheron Menezzes, curta é roteirizado por Veralinda Menezes, mãe da atriz

Por Tatiane Alves 

Licínio Januário

Durante o Encontro Negro de Cinema Negro Zózimo Bulbul: Áfica, Caribe e Outras Diásporas, que aconteceu no Rio de Janeiro no início deste mês, o diretor Licínio Januário apresentou seu curta ‘A Namoradeira’.

Popular escultura brasileira, as bonecas namoradeiras, reza a lenda, estariam sempre esperando por um namorado, mas no curta de Licínio Januário, a história é outra. A trama consiste em um drama familiar denso. Naná (Sheron Menezzes) é uma mãe dispersa que jamais percebeu que a filha sofria abusos pelo padrasto dentro de sua própria casa. Dentro dessa realidade, Lúcia (Julia Carvalho/ Mariana Oliveira) esconde-se num mundo paralelo, criada por ela mesma.

Com produção familiar, o filme é produzido pela Princípes Negros Cultural fundado Veralinda Menezes – mãe de Sheron, que também assina o roteiro do curta. Com sensibilidade, a narrativa audiovisual configura-se como um importante meio de transmissão de histórias que poderiam acometer a família de qualquer um. Licínio conta como foi dirigir um filme com um tema tão difícil.

Sempre tento abordar temas próximos da população preta, pois entendo que o audiovisual estabelece uma conexão imediata”Licínio Januário, ator

“O roteiro já chegou com esta densidade. A minha contribuição foi trazer um olhar mais poético. No entanto, para este curta o mais especial foi a presença feminina no set. A produção e a co-direção de Jessica Barbosa foi fundamental para materializar o filme com leveza, além de enriquecer a produção”, declarou o Licínio.

O diretor que tem seis irmãs comentou que sua família jamais passou pelo drama vivido pela personagem Lúcia, mas que ao dirigir o filme se deparou com inúmeros relatos e que isso o fez perceber a importância de retratar essas histórias e que elas sejam, cada vez mais, protagonizadas por pessoas negras. Para ele, a população preta sabe passar a mensagem do jeito que ela deve ser contada.

“Sempre tento abordar temas próximos da população preta, pois entendo que o audiovisual estabelece uma conexão imediata. Aqui no Brasil, é comum todo mundo assistir séries americanas como ‘Um maluco no pedaço’, ‘Todo mundo odeia o Chris’ e ‘Eu, patroa e as crianças’, mas sempre pelo viés da comédia. É preciso salientar que essas produções serviram para trazer o empoderamento intelectual da população negra estadunidense para que elas pudessem lutar por mudanças sociais. Acho que é preciso fazer a mesma coisa aqui no Brasil. Precisamos protagonizar essas histórias. A ideia é sempre contribuir para desmistificar estes assuntos. Essa sempre é a minha intenção, a minha vivência me levou para isso”, contou.

Ao enxergar o cinema como uma importante ferramenta de comunicação, Licínio diz que expor a realidade contribui para que outros também se sintam incentivados a produzir mais conteúdos sobre o tema. E deixa um convite para que mais pessoas possam fazê-lo, além de uma mensagem especial para jovens negros.

“Busquem narrativas diferentes daquelas que o sistema nos coloca, busquem histórias positivas, que humanizem nossos corpos. É mais que urgente produzir isso em massa. A autoestima é a base de tudo. Quando nos entendemos enquanto pessoas negras somos capazes de realizar qualquer coisa. Produzam! Produzam! Produzam! E não tenha medo da opinião alheia”, finalizou. 

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