A revelação de que uma tomografia cerebral de Kim Kardashian mostrou “baixa atividade” e supostos “buracos” reacendeu um debate importante entre especialistas: a crescente popularização de exames sem comprovação científica sólida, especialmente quando divulgados por celebridades com amplo alcance. O episódio foi exibido no reality The Kardashians e apresentado como um achado preocupante, mas cientistas alertam que a tecnologia utilizada, a tomografia por emissão de fóton único, conhecida como SPECT, não deve ser interpretada dessa forma.
O exame mede fluxo sanguíneo no cérebro a partir da injeção de substâncias radioativas. Embora tenha aplicações clínicas específicas, como investigações cardíacas ou diagnósticos neurológicos restritos, não existe evidência robusta para seu uso como ferramenta de diagnóstico geral de saúde cerebral. Em muitos casos, o SPECT tem sido promovido em clínicas privadas como solução para estresse, TDAH, Alzheimer e até conflitos conjugais, sem respaldo científico.

Especialistas afirmam que áreas com menor fluxo sanguíneo, apresentadas como “buracos” nas imagens, não representam lesões reais no cérebro. Elas podem variar conforme horário do dia, nível de descanso e outras condições totalmente inespecíficas. No caso de Kim, o médico atribuiu a alteração ao “estresse crônico”, mas não há estudos que confirmem essa relação.
Além da falta de evidência, há o fator financeiro: um exame de SPECT em clínicas privadas pode custar mais de US$ 3 mil. Para muitos especialistas, trata-se de uma prática que explora inseguranças sobre saúde mental e corporal, sobretudo entre grupos mais vulneráveis ao marketing de bem-estar e à pressão estética, fenômeno que afeta de forma desproporcional mulheres, especialmente mulheres negras, historicamente alvo de narrativas de patologização e vigilância sobre seus corpos.
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A utilização indevida desses exames também pode levar a diagnósticos equivocados, exposição desnecessária a material radioativo e tratamentos sem comprovação. Segundo pesquisadores, pessoas saudáveis não devem se submeter a exames de imagem oportunistas, já que o risco de achados irrelevantes ou interpretações erradas supera qualquer potencial benefício.
O caso de Kim Kardashian é mais um lembrete de como celebridades podem influenciar decisões médicas do público, mesmo sem base científica. Para especialistas, o melhor cuidado em saúde mental e neurológica continua sendo aquele orientado por evidências, conduzido por profissionais qualificados e livre de promessas milagrosas ou exploração comercial.









