“Ninguém acredita que uma preta possa ser advogada”, desabafou Kelly
Kelly Cristina de Oliveira trabalhava na defesa de um cliente, na última terça-feira (1), no bairro Estâncias Imperiais, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando foi abordada por três homens e um deles alegou ser policial civil. Com a conversa, a advogada descobriu que o homem tinha discutido com seu cliente por conta de um lote.
Em determinado momento, o agressor duvidou que Kelly é advogada e começou a ofendê-la, foi quando ela ouviu que não passava de uma “negrinha, comedora de feijão cru”.
Ainda de acordo com Kelly (41), a Polícia Militar foi acionada e constatou que os homens eram policiais penais e foram encaminhados à delegacia de Contagem. A advogada ainda relatou que foi agredida pelos suspeitos, com tapas e foi ameaçada. “Ninguém acredita que uma preta possa ser advogada, eu preciso provar o tempo todo”, desabafou.
Racismo no cotidiano
Kelly ressaltou ainda que no seu dia a dia, convive com o racismo e a sensação é de impotência. “É revoltante como isso [o racismo] é comum. Nos fazem sentir como lixo, como se a gente não fosse nada. Só enxergam sua cor. A sensação é que todos os anos que estudei, que batalhei, não valeram nada para eles. Pra nós, que somos mulheres e negras, esses dois fatores são usados para diminuir a gente”, afirmou a advogada e completou. “Durante minha faculdade, eu era a única negra da sala. No trabalho, já ando com minha carteirinha da OAB na mão, porque não acreditam que uma negra possa ser advogada. Tenho que provar sempre pra todos o que sou”.
Crime Perfeito
Segundo ela, os principais motivos da quantidade de denúncias de racismo ainda é por que não existe responsabilização dos culpados e é preciso cobrança e mais empenho das autoridades nos casos. “Quem sofre não pode se calar. Precisamos cobrar mais os órgãos, como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), os políticos, o Judiciário. É preciso cobrança de todos os lados. É um crime que se espalha por todos os lados, com os negros, com determinadas religiões. Infelizmente, eu não sou a primeira vítima e nem vou ser a última”, lamentou.
Resposta
Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais afirmou que não compactua com desvios de conduta dos agentes e que os fatos serão apurados. Ainda segundo a nota, os supostos crimes ocorreram fora do sistema prisional e que será observado o amplo direito de defesa.