Um estudo publicado na revista científica Frontiers in Psychology indica que homens tendem a chorar mais em contextos esportivos, especialmente no futebol, do que em situações de forte impacto emocional na vida pessoal, como términos de relacionamento. A pesquisa analisa como normas culturais associadas à masculinidade influenciam a forma como os homens expressam sentimentos.
Conduzido pela pesquisadora Heather J. MacArthur, o levantamento reuniu e analisou dados de diferentes estudos sobre choro, emoções e papéis de gênero. Os resultados apontam que, embora o choro masculino ainda seja socialmente desencorajado em contextos considerados íntimos, como o fim de um relacionamento ou o luto, ele se torna aceitável em ambientes vistos como “masculinos”, a exemplo das competições esportivas.

Segundo a pesquisa, homens relataram maior probabilidade de chorar durante derrotas ou vitórias de seus times do que em eventos pessoais marcantes. Em alguns casos analisados, torcedores afirmaram vivenciar emoções mais intensas no futebol do que no nascimento de um filho ou no encerramento de uma relação amorosa. O estudo sugere que isso ocorre porque o esporte funciona como um espaço coletivo legitimado para a expressão emocional.
A pesquisa destaca que o futebol carrega forte simbolismo social ligado à identidade masculina, à lealdade e ao pertencimento. Nesse contexto, o choro não é interpretado como fragilidade, mas como demonstração de paixão e compromisso. Já em situações associadas ao cuidado emocional ou à vida afetiva, expressar vulnerabilidade ainda pode ser visto como inadequado para homens.
Os dados também mostram uma diferença expressiva entre gêneros: mulheres choram, em média, entre 30 e 67 vezes por ano, enquanto homens relatam entre 6 e 17 episódios anuais. A pesquisa aponta que essa disparidade não é explicada apenas por fatores biológicos, mas sobretudo por expectativas sociais aprendidas desde a infância.
Do ponto de vista social e racial, o estudo ajuda a compreender como padrões rígidos de masculinidade afetam de forma desigual diferentes grupos de homens. Entre homens negros, por exemplo, a repressão emocional pode ser ainda mais intensa, atravessada por estigmas raciais que associam sensibilidade à fraqueza e reforçam a cobrança por autocontrole constante.
Para a pesquisadora, reconhecer o futebol como uma das poucas brechas socialmente aceitas para o choro masculino revela limites mais amplos na forma como a sociedade lida com emoções, especialmente entre homens. O estudo contribui para o debate sobre saúde emocional, masculinidades e a necessidade de ampliar os espaços legítimos de expressão afetiva.








