A peça da Cia Os Crespos conta história de irmandade feminina com narração de Léa Garcia e interação com desenhos animados
A mitologia de Obá – orixá pouco conhecida no Brasil – ganha novos contornos na peça para Infância e juventude com a peça “De Mãos Dadas com Minha irmã”. Com temporada até 17 de dezembro no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, as apresentações trazem duas telas de projeção no cenário, onde a atriz, Lucelia Sergio, interpreta Obá e interage com personagens animadas.
A história de irmandade feminina tem narração de Léa Garcia, sob a direção de Aysha Nascimento e dramaturgia de Lucelia Sergio. As apresentações acontecem de sexta a domingo, com horários na parte da manhã e da tarde.
Gestado desde meados de 2018, a peça, segundo Lucelia Sergio, representa um marco nos 18 anos de trajetória d’Os Crespos – companhia de teatro que fundou em parceria com o ator Sidney Santiago Kuanza e diversos outros artistas em 2005, quando frequentavam a Escola de Arte Dramática da USP. Após a Cia voltar-se por dois anos ao audiovisual, devido ao período da pandemia, Lucelia retoma as temporadas de estreia nos palcos de São Paulo.

“Estamos com sede de palco. Esse flerte com o audiovisual foi fundamental para esse retorno, através de um espetáculo multilinguagens, com teatro, dança, música e vídeo“, afirma Lucelia Sergio, que dirigiu ao lado de Cibele Appes o curta-metragem da companhia, “Dois Garotos que se Afastaram Demais do Sol” (2021), vencedor do prêmio do Júri de “Melhor Curta-Metragem” do 29º Festival Mix Brasil.
Para “De Mãos Dadas com Minha Irmã”, a companhia aposta em projeções mapeadas de cenários e personagens virtuais que contracenam com Lucelia no palco, para dialogar com crianças e jovens. A direção musical fica por conta de Beth Beli, do Bloco afro Ilú Obá de Min e conta com as vozes de Ailton Graça, Fabiana Cozza, Alzira Espíndola, Lenna Bahule entre outros, para as canções e personagens animadas. Léa Garcia, referência para artistas negras e negros, que nos deixou em agosto deste ano, dá voz à narradora da peça e fará sua estreia póstuma através de personagem virtual criada para a atriz.
Sobre o processo criativo
“Não é à toa que a pessoa tem os olhos voltados para fora, enxergar por dentro exige outra compreensão”, trecho de aforismo das sabedorias de terreiro.
As ilustrações são criadas de forma autoral para o espetáculo, assim como a dramaturgia e a música, que partem de contos e ritmos afro-brasileiros para narrar a trajetória de uma heroína negra.
O nome do espetáculo faz parte de um capítulo do livro “Ensinando a Transgredir” da escritora estadunidense bell hooks e busca valorizar conceitos de matrilinearidade e de irmandade entre mulheres. O espetáculo se nutre da filosofia iorubá dos povos nagô, para a qual as águas representam a feminina. E é a partir desta ideia que a dramaturgia traça um paralelo entre um mundo devastado pela seca e a desvalorização das mulheres em nossa sociedade.
“Há vinte anos temos a lei 10673/03, que institui a obrigatoriedade do ensino da história afro-brasileira nas escolas, e ainda encontramos muitas barreiras para sua real aplicação. Para nós é urgente não só contar as nossas histórias, mas entender as filosofias que balizam a cultura negra no Brasil, preservando nossas memórias. Ainda hoje é um trabalho quase arqueológico falar sobre nós mesmos, mas esperamos que os jovens e crianças de agora possam ter outras oportunidades.” Afirma Lucelia
Sinopse
Obá é uma heroína que sai de sua terra com a missão de salvar seu povo de uma terrível seca. Longe da sua gente ela perde a memória e tudo o que sabe sobre si é o pouco que lhe contam. Ela terá de entrar no fundo da floresta das feiticeiras ancestrais para encontrar água e reencontrar sua identidade. Mas, para salvar a si mesma e ao seu povo, Obá terá de escutar todas as águas do universo.
Serviço
Temporada até 17 de Dezembro
Domingos e feriados (15 e 20/11), às 12h | Sextas, 24/11 e 01/12 às 10h
Ingressos: R$ 10 (credencial plena), R$ 15 (meia entrada) e R$ 30 (inteira)
Crianças até 12 anos não pagam
Duração: 80 min | Classificação Livre
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