Após três dias sem pronunciar uma palavra sobre o assassinato da menina Ágatha Felix, de 8 anos, morta no Complexo do Alemão na última sexta-feira (20), o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel convoca coletiva de imprensa e afirma que manterá a atual política de (in)segurança pública adotada em seu governo.
“A política de segurança é exitosa, a população tem sentido o aumento da sensação de segurança nas ruas. Narcoterroristas atuam nas comunidades e as usam como escudo. Escolhi os melhores quadros para a polícia, e eles definem como atuar. Cabe a mim ouvir a população e cobrar resultados. Continuaremos assim”, declarou o chefe do executivo.
Ainda durante a coletiva Wilson Witzel disse que as pessoas que fumam maconha e cheiram cocaína são diretamente responsáveis pelo assassinato de Ágatha que ele classificou apenas como uma ‘tragédia’:
“Aqueles que usam substâncias entorpecentes de forma recreativa, façam uma reflexão. Vocês são responsáveis pela morte da menina Ágatha: vocês que usam maconha e cocaína e dão dinheiro para genocidas”, afirmou o governador.
Witzel, que no dia do sequestro do ônibus na ponte Rio-Niterói não demorou nem três horas para aparecer no local, tentou se explicar dizendo que o assassinato de Ágatha foi diferente, por isso sua demora em se pronunciar dessa vez.
“O fato que ocorreu na Ponte Rio-Niterói estava imediatamente acontecendo, e a polícia agiu de forma adequada. No caso da Ágatha eu não estava no momento, recebi a notícia de forma indireta. E da mesma forma que, por exemplo, não me manifestei no caso dos tiros desferidos envolvendo o exército brasileiro ( caso do carro fuzilado com 77 tiros em Guadalupe, que vitimou o músico Evaldo Rosa e o catador Luciano Macedo) quando falei que ia aguardar para verificar quais foram os elementos que foram colhidos pela justiça militar, agora neste caso, eu aguardei, conversei, fiz várias ligações durante o fim de semana para os secretários Marcus Vinicius e Rogério Figueiredo até que eu pudesse formar um juízo de convicção para o momento”.
Witzel é denunciado na ONU após morte de Ágatha Félix
O governador foi denunciado na ONU (Organização das Nações Unidas) pela ONG Justiça Global, junto com oito entidades que atuam em favelas do Rio de Janeiro.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos exigiu a identificação e a definição de responsabilidades pela morte da estudante.
“O Estado deve investigar de maneira célere e diligente e punir os responsáveis”, diz a entidade.
A Unicef Brasil declarou, em nota, que “apela para o compromisso de proteger o direito à vida de cada menina e menino, de prevenir homicídios e de priorizar a investigação das mortes violentas de crianças e adolescentes”.
“A morte da menina Ágatha Félix, assassinada por um tiro nas costas durante uma ação da Polícia Militar no Rio de Janeiro, nos revela a dor profunda das famílias, os sorrisos e os sonhos interrompidos de 32 crianças e adolescentes assassinados por dia no Brasil”, diz a nota, divulgada nesta segunda-feira (23).
A ONG Justiça Global apresentou, junto com oito entidades que atuam em favelas no estado, uma denúncia contra Witzel à alta-comissária da ONU para os Direitos Humanos, a ex-presidente do Chile Michele Bachelet. No texto, a entidade afirma que a morte da menina é “diretamente relacionada à bárbara política de segurança pública conduzida pelo governador do Rio de Janeiro”.
A OAB-RJ afirmou em nota no sábado (21) que a morte da menina “vem se somar à estatística de 1.249 pessoas mortas pela polícia nos oito primeiros meses do ano”.
“Um recorde macabro que este governo do Estado aparenta ostentar com orgulho. A OAB-RJ lamenta profundamente que a média de cinco mortos por dia pela polícia seja encarada com normalidade pelo Executivo estadual e por parte da população. A normalização da barbárie é sintoma de uma sociedade doente”, diz a nota.
O Ministério Público do Rio de Janeiro lamentou a morte da estudante e disse em nota que “o uso inapropriado ou extralegal da força letal pela polícia, quando desmedido e frequente, além de afetar a legitimidade da instituição policial, configura um problema público que deve ser debatido de forma ampla”.
“O Ministério Público, que detém o dever constitucional de exercer o controle externo da atividade policial, também está atento à política pública de segurança que vem sendo adotada. O MPRJ, por meio do seu centro de pesquisas (CENPE/MPRJ), vem elaborando um minucioso estudo sobre o tema para que a atual política de segurança seja cuidadosamente analisada, para que tragédias como essa não se repitam”, diz a nota.
A Anistia Internacional declarou que “a responsabilidade do governador é prevenir e combater a violência com inteligência e levando em consideração que todas as vidas importam”. “E não deixar um rastro de vítimas que deveriam ser protegidas pelo Estado, como Ágatha e mais de mil pessoas mortas só este ano por agentes de segurança pública no Rio de Janeiro”, diz a ONG.
Verme. Vidas negras não tem a minima importancia para esses caras