A exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira está em cartaz em Salvador, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB), até o mês de agosto. A mostra, promovida pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em parceria com o MUNCAB, apresenta um amplo panorama da produção artística afro-brasileira, reunindo obras de 69 artistas, entre nomes históricos e contemporâneos, em linguagens como pintura, escultura, instalação, fotografia e vídeo.
A exposição foi inaugurada no dia 29 de março, data em que Salvador celebrou seus 476 anos, e marca também um momento importante para o MUNCAB, que neste ano receberá um acervo com mais de 700 obras afro-brasileiras repatriadas dos Estados Unidos.

Com curadoria de Deri Andrade, idealizador do Projeto Afro, a mostra propõe um olhar sobre a presença negra na história da arte brasileira e sua influência nas construções visuais do país. “Salvador carrega consigo a história e a resistência da população negra no Brasil, o que transforma a experiência da exposição. Apresentar as imagens da baiana Lita Cerqueira aqui, por exemplo, é reconhecer sua contribuição para a memória visual da cultura afro-brasileira”, destaca o curador.
No MUNCAB, a mostra estabelece conexões intensas com o território que a abriga. A disposição das obras segue a estrutura apresentada nas outras capitais, mas encontra novos sentidos ao ocupar um espaço que já atua como referência das expressões afro-diaspóricas. A expografia, assinada por Matheus Cherem com produção técnica de Vinícius Andrade e Vitória Mazzaro, propõe um percurso não linear, em que o corpo do visitante é convidado a ocupar e interpretar o espaço de forma livre.
As cerca de 150 obras estão organizadas em cinco eixos curatoriais: “Tornar-se”, sobre o ateliê e o autorretrato; “Linguagens”, com foco nos movimentos artísticos; “Cosmovisão”, que aborda direitos e engajamento político; “Orum”, sobre espiritualidade e a relação Brasil-África; e “Cotidianos”, que discute representatividade nas práticas do dia a dia.
Entre os artistas em destaque estão nomes como Rubem Valentim, Mestre Didi, Arthur Timótheo da Costa, Maria Auxiliadora e Lita Cerqueira, esta última retratando em suas fotografias aspectos da vida cotidiana e da cultura de Salvador, como na imagem histórica da saída dos Filhos de Gandhy no carnaval de 1999.
A realização da mostra é coordenada pela Tatu Cult em parceria com o Projeto Afro e o CCBB. Segundo Jacó Oliveira, cofundador da Tatu Cult, trazer a exposição para Salvador era um desejo antigo da equipe: “Ver “Encruzilhadas” encerrar sua itinerância em Salvador é fundamental para reafirmar o compromisso com o legado histórico da cidade mais negra do Brasil. Para nós é uma honra e um privilégio fazer parte desse movimento”.
Jamile Coelho, diretora artística do MUNCAB, reforça o impacto da mostra: “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira afirma a arte negra como eixo central, não desvio. Sua presença em Salvador fortalece esse enraizamento e amplia o acesso a narrativas antes marginalizadas”.
Para Júlio Paranaguá, gerente do CCBB Salvador, a itinerância reafirma o compromisso da instituição com a valorização da cultura afro-brasileira. “A mostra oferece um olhar necessário e abrangente sobre a produção de artistas negros no Brasil, promovendo reflexões sobre identidade e história. É uma honra contribuir para essa circulação”, conclui.
Leia também: Exposição “Indomináveis Presenças” no CCBB RJ celebra perspectivas negras, indígenas e LGBTQIAPN+